Catequese e o tempo Quaresmal
Quaresma, uma vez mais. Tempo forte na caminhada do ano eclesiástico. Convite e apelo para. o silêncio, a prece, a conversão. E quando se fala em quaresma, geralmente a gente tem uma idéia de uma coisa negativa, como antigamente. Tempo de medo, de cachorro zangado, de mula sem cabeça e outras coisas mais.
Para outros a quaresma parece superada pelo modernismo e é hoje apenas uma recordação negativa do passado ou um retrato na parede, simplesmente.
Penso, para nós cristãos é o tempo de conversão, de mudança de vida, de acolher com mais amor a misericórdia de Deus que nos quer perdoar. E é também o tempo onde as comunidades se preparam para viver o mistério da páscoa. Isto é, tempo da hora de Jesus Cristo do seu seguimento em que ele caminha em direção da sua hora que é a entrega total da sua vida a Deus pelos homens, seus irmãos.
A quaresma é para cada um de nós um tempo de oração e de conversão. Tempo de crescer em comunhão com todos os homens, principalmente com os mais pobres e necessitados. Eles nos lembram o rosto sofrido de Jesus e nos convidam a viver com mais fidelidade a caridade, o amor fraterno, que o Evangelho exige de nós:
Quaresma: ” Converter-se e crer no Evangelho”
Mais uma vez estamos começando a quaresma. Vamos apenas repeti-la e ficar onde estamos? Ou vamos descobrir algo novo e progredir na vida? Desde antigamente, a Igreja nos prepara para a Páscoa com esse período de 40 dias.
O número não foi escolhido à-toa. Desde a tradição do livro do Êxodo (Ex 16,35), considera-se que o povo de Deus passou 40 anos no deserto antes de chegar à terra prometida, à liberdade.
No Evangelho de São Marcos 1-13 Jesus passa 40 dias no deserto. E aí supera a tentação de satanás, aquela que Adão, o Homem, não conseguiu superar. Isso significa que Jesus passou pela aprovação e saiu vitorioso. Mas o que tem isso a ver conosco hoje? Que luz isso trás para nossa luta de todos os dias?
O destino ou o paraíso?
Jesus nos indica o ponto de chegada, a direção em que devemos caminhar. Ele que, no deserto, vencido Satanás, “vivia entre as feras e os anjos o serviam” é o novo Adão. É o homem no paraíso. É a nova humanidade, realizada, em paz com Deus e com a natureza. Essa mensagem de paz diga-se de passagem, aparece também no livro do Gênese 9,8-15, quando se diz que Deus pendurou o seu arco de guerra e fez a paz com os homens. E o arco de Deus se tornou o arco Íris, que pôs fim ao dilúvio, ao castigo.
Como chegar lá?
Uma pista nos vem do antigo povo de Deus, aquele que caminhou por 40 anos no deserto. À sua frente ia Moisés. Este povo é parecido conosco. Nossas provações, nossa luta, não duram 40 dias, mas 40 anos ou mais!
Nós estamos sempre a caminho, no deserto, na esperança de chegar. De Moisés, os rabinos contavam uma história curiosa.
Diziam que ele viveu 120 anos, e teve 3 longas provações de 40 anos na vida.
A 1ª foi no Egito: 40 anos de aprendizagem, de experiência, de educação.
Aprendeu a viver, a sentir os dramas do povo, a descobrir a solidariedade. Achou que deveria lutar pelo seu povo. Revoltou-se contra a opressão dos egípcios. Mas… Ninguém o seguiu. Aí a decepção, a fuga para Madiã, outros 40 anos curtindo sua decepção e reconquistando aos poucos a confiança, as forças, a maturidade.
Enfim, superada também esta 2ª provação, Deus o chamou para guiar o seu povo, durante 40 anos, na saída do Egito, no caminho da libertação.
A história de Moisés nos diz que há etapas e provações diferentes na vida. Cada um, – jovem, adulto, mais velho – tem a sua etapa a vencer, a sua caminhada.
Nesta quaresma, qual é o passo que eu devo dar?
Os próximos passos
Não devemos, porém, olhar só para a nossa situação pessoal. O amadurecimento de Moisés é exatamente esse: Passar de sua percepção ainda ingênua das coisas para uma visão lúcida da vontade de Deus e das necessidades de seu povo.
Viver a quaresma, é antes de tudo lutar contra tudo que nos separa.
A tentação é sossegar diante dos problemas.
Superar a provação, vencer a batalha contra o mal. Não é “apenas isso”, mas nesta luta é que estamos continuando a luta contra satanás, continuando a caminhada do povo junto à libertação, realizando a nova humanidade.
Certamente, a outros passos a dar.
Caminhada ou travessia?
A primeira carta de São Pedro 3,18-22 compara a nossa provação a uma passagem pelas águas. Não uma caminhada, mas uma travessia! Algo como aconteceu a Noé, que foi salvo pela arca. Mas agora o nosso barco é outro.
É a cruz de Cristo. Nele embarcamos com o batismo. O batismo não é um ponto de chegada. É um compromisso de seguir o Evangelho, a cruz de Jesus.
E é ao mesmo tempo a garantia de que esse barco realmente pode nos conduzir ao porto seguro, ao lugar certo.
Símbolos da Quaresma
Conheça os símbolos da quaresma e seu significado: cinza, deserto, 40 dias, jejum.
A CINZA
É o resíduo da combustão pelo fogo das coisas ou das pessoas. Este símbolo já se usa na primeira página da Bíblia quando nos conta que “Deus formou o homem com o pó da terra” (Gen 2,7). Isso é o que significa o nome de “Adão”. E se lhe recorda em seguida que esse é precisamente seu fim: “até que voltes à terra, pois dela foste criado” (Gn 3,19).
Por extensão, pois, representa a consciência do nada, da nulidade da criatura com respeito ao Criador, segundo as palavras de Abraão: “Embora sou pó e cinza, me atrevo a falar ao meu Senhor” (Gn 18,27).
Isto leva a todos a assumir uma atitude de humildade (“humildade” vem de húmus, “terra”): “pó e cinza são os homens”, “todos caminham para uma mesma meta: todos saem do pó e todos voltam ao pó”, “todos expiram e ao pó retornam”. Por tanto, a cinza significa também o sofrimento, o luto, o arrependimento. Em Jó (Jó 42,6) é explicitamente sinal de dor e de penitência. Daqui se desprendeu o costume, por largo tempo conservado nos monastérios, de estender os moribundos no solo coberto com cinza posta em forma de cruz.
A cinza se mescla as vezes com os alimentos dos ascetas e a cinza abençoada se utiliza em ritos como a consagração de uma igreja, etc.
O costume atual de que todos os fiéis recebam em sua frente ou em sua cabeça o sinal da cinza ao começo da Quaresma não é muito antigo.
Nos primeiros séculos se expressou com este gesto o caminho Quaresmal dos “penitentes”, ou seja, do grupo de pecadores que queriam receber a reconciliação ao final da Quaresma, a Sexta-feira Santa, as portas da Páscoa. Vestidos com hábito penitencial e com a cinza que eles mesmos se impõem na cabeça, se apresentavam ante a comunidade e expressavam assim sua conversão.
No século XI, desaparecida já instituição dos penitentes como grupo, se viu que o gesto da cinza era bom para todos, e assim, ao começo deste período litúrgico, este rito que começou a realizar para todos os cristãos, de modo que toda a comunidade se reconhecia pecadora, disposta a aprender o caminho da conversão Quaresmal.
Na última reforma litúrgica se reorganiza o rito da imposição da cinza de um modo mais expressivo e pedagógico. Já não se realiza ao princípio da celebração ou independentemente dela, sendo depois das leituras bíblicas e da homilia. Assim a Palavra de Deus, que nos envia esse dia à conversão, é a que da conteúdo e sentido ao gesto.
Além do mais, se pode fazer a imposição das cinzas fora da Eucaristia – nas comunidades que não têm sacerdote -, mas sempre no contexto da escuta da Palavra.
O DESERTO
Geograficamente falando, é um lugar despovoado, árido, só, inabitado, caracterizado pela escassez de vegetação e pela falta de água.
É o lugar onde transcorre o jejum, considerado como solidão exterior e interior, para levar, ao que nele se interna, par a união com Deus.
Os textos bíblicos em que se fundamenta esta afirmação são os quarenta dias de Moisés sem comer nem beber no monte Sinai para receber a Lei (Ex 24, 12-18; 34) e os quarenta dias de Elias (1 Re 19,3-8).
Elias vive a dureza do deserto reconfortado pela comida e bebida misteriosa, e recorre seu caminho superando o declínio dos israelitas nos quarenta anos de marcha para a terra prometida. Se trata, em todos os casos, de homens marcados pela visão de Deus ao final do dito caminho.
Estas narrações nos ajudam a entender o sentido dos quarenta dias de deserto de Cristo (Primeiro Domingo de Quaresma), vivido como experiência da tentação e encontro íntimo com o Pai, mas, também, como preparação a seu ministério público.
Para a Bíblia, o deserto é, também, uma época de oração intensa. É o lugar do sofrimento purificador e da reflexão. Embora também e uma graça que pode ser rejeitada.
O jejum de Moisés contrasta com a rejeição dos quarenta anos de deserto por parte do povo. Os quarenta dias de Moisés são o refazer um caminho de fidelidade que o povo não soube andar, assim como os de Cristo o são para a prova que o Espírito Santo permitia ao tentador (Mt 4, 1).
O deserto é a geografia concreta, o espaço e o tempo da união com Deus. Por isso Oséias (Os 2, 16-17) o propõe como o lugar propício para captar sua mensagem espiritual, igual o que faz a Igreja com seus filhos na Quaresma.
Muitas vezes em nossa vida cotidiana nós rejeitamos esses espaços de silêncio e solidão porque temos medo de nos encontramos com nós mesmos e com Deus e descobrir que longe estamos de seu projeto sobre nós. Por isso, o ” deserto” requer coragem dos humildes, dos que não têm medo de começar novamente…
OS QUARENTA DIAS
A organização Quaresmal é um tempo simbólico que faz suas raízes no Antigo e no Novo Testamento. Os quarenta dias de Moisés e de Elias ou os quarenta anos do Povo eleito no deserto não são referências secundárias. A tradição judeu-cristã tem visto neste número um determinado significado. Provavelmente a idéia mais antiga seja a referência aos anos de deserto vistos como um tempo associado ao castigo de Deus (cf. Nm 14,34; Gn 7,4. 12. 17; Ez 4,6; 29, 11-13).
Em Deuteronômio aparece uma interpretação dos quarenta anos como o tempo da prova à que Deus somente ao povo (Dt 2,7; 8,2-4). São os dias do crescimento da fé, segundo o Salmo 94, 10. Para os Atos dos Apóstolos, o número quarenta continua sendo simbólico. Lucas divide a vida de Moisés em três períodos de quarenta anos (At 7,23 e 7,30); faz referência aos quarenta anos do reinado de Saul (At 13,21); e aos quarenta dias da Ascensão (Atos 1, 3).
Estes quarenta dias poderiam, então, considerar-se como esse “hoje” do que fala a Carta aos Hebreus ao referir-se ao Sal 94, como esse “tempo propício” para escutar a voz de Deus e não endurecer o coração.
Em efeito, nossa relação com Deus necessita não só de um “espaço” adequado (o deserto como lugar de silêncio), sendo também de um “tempo” oportuno e concreto, “suficiente” para escutar, através de nossa consciência, sua voz de Pai que corrige e consola.
É uma pena, porque no fundo é o próprio Evangelho que a gente termina mutilando. A voz de Cristo perdendo força, clamando no deserto.
Fonte:http://portalcatolico.org.br/portal/catequese-e-o-tempo-quaresmal/
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