Catequistas de Conquista

terça-feira, 20 de maio de 2014

Comunidade de Comunidades: Uma nova Paróquia

Do que trata o estudo 104?

O Documento de Aparecida, resultado da 5ª Conferência do episcopado latino-americano (realizada em 2007, com abertura feita pelo Papa Bento XVI), fala da necessidade de renovação, revitalização e mesmo transformação das estruturas da Igreja, a começar pela Paróquia. Fala do esforço a ser empreendido para superar uma pastoral de manutenção e da necessidade de uma conversão pastoral.

É nesse contexto de desafios que emerge o fenômeno da migração religiosa, que vem acontecendo de forma intensa há pelo menos duas décadas. Os dois últimos censos (2000 e 2010) oferecem um mapa dessa migração, mostrando a diminuição considerável do número de católicos no Brasil. Em 1990, os católicos somavam cerca de 83% da população brasileira; em 2000, somavam 73,6% dos brasileiros e, em 2010, diminuíram para 64,6%. Tais dados trazem preocupação à Igreja, chamada, hoje, a responder a importantes e novos desafios:

1. O desafio da vida urbana. As paróquias hoje são, geralmente, demograficamente densas, territorialmente grandes, especialmente as localizadas em áreas periféricas das grandes e médias cidades. Daí a necessidade de uma descentralização por meio da existência, em cada paróquia, de outras comunidades eclesiais, além daquela que se reúne na igreja matriz. A expressão "comunidade de comunidades" indica a paróquia em sua presença expandida, formando como que uma rede de comunidades. Onde surge um novo bairro, sem demora, a Paróquia deveria providenciar espaço físico (terreno) para uma nova comunidade.
2. O desafio da identidade. Uma comunidade eclesial será sempre constituída levando em conta as três dimensões fundamentais da vida da Igreja: palavra – liturgia – caridade. A Palavra de Deus chega pelo anúncio do evangelho e pela catequese em todos os níveis, na Igreja. A caridade é o testemunho visível de amor ao próximo, especialmente aos pobres. Tal testemunho dá credibilidade à presença dos cristãos chamados a ser "luz do mundo". A vida litúrgica e demais aspectos da vida da Igreja têm seu centro na Eucaristia, especialmente a dominical, celebrada no dia do Senhor. Daí a necessidade da presença do sacerdote, a importância de uma eficaz pastoral vocacional e a valorização do ministério ordenado do presbiterato.
3. O protagonismo dos leigos. Cada cristão, isto é, cada batizado, é a presença viva da Igreja no ambiente da sociedade onde ele vive, trabalha, se relaciona. É no mundo e para o mundo que ele dá testemunho público de sua fé e o bom exemplo de pai, mãe, profissional, cidadão... Através do leigo, a Igreja se faz presente nas realidades seculares (presença do mundo no coração da Igreja e presença da Igreja no coração do mundo). Para que isso aconteça, é necessário que o leigo seja valorizado, incentivado, formado e a ele sejam confiados serviços (ministérios), a partir de seus dons (carismas).
Há serviços que os leigos realizam no âmbito interno da Igreja: anúncio da palavra (ministros da palavra), catequese, serviço do altar (ministros extraordinários da sagrada comunhão, salmistas), ministério da coordenação, administração, pastoral dos enfermos, serviço da caridade, isto é, aos pobres, cf. palavras do apóstolo Paulo: nós só nos deveríamos lembrar dos pobres, o que, aliás, tenho procurado fazer com solicitude (Gl 2,10). E a opção preferencial pelos pobres se expande considerando a dimensão profética e transformadora da missão dos leigos, sendo fermento, sal e luz (agente) na construção de uma sociedade justa e solidária.
4. Novas expressões. A Paróquia – com seu pároco, suas comunidades, pastorais e conselhos – deve ser o lugar de acolhida das novas realidades ou novas expressões da vida eclesial, como os movimentos, as novas comunidades, as comunidades de vida, as associações. Deve abrir-se também à possibilidade da existência de comunidades e paróquias ambientais, ou seja, aquelas cuja presença e organização transcendem a territorialidade, uma vez que contará com membros participantes de diversos lugares.
5. Novos métodos. Novo ardor e novas expressões, no dizer do Beato João Paulo II, requerem novos métodos. A conversão pastoral requer abertura a realidades novas e a coragem de inovar e não fazer sempre as mesmas coisas, utilizando-se das mesmas estruturas, muitas vezes ultrapassadas. Supõe também, e antes de tudo, conversão pessoal, mudança de coração e de vida, para, depois, sair de si e ir ao encontro dos irmãos, especialmente os afastados, dando-lhes acolhida, propondo um retorno. Acolher de modo especial os jovens, os pobres, doentes, os "contritos de coração", (tristes, angustiados, deprimidos, solitários, etc...), oferecendo-lhes amparo.
6. Novo ardor (Família e missão). A Igreja, família dos discípulos de Jesus Cristo, é formada pelas famílias. A pastoral familiar empreende esforço para ajudar os casais e as famílias, buscando respostas a novas situações familiares, como a dos casais em segunda união estável e outras ... A Igreja ajudará as famílias a educarem seus filhos na fé, na piedade, na freqüência aos sacramentos, numa conduta exemplar. Do novo ardor cristão nas famílias decorre um novo ardor vocacional e missionário.
7. Anúncio e Catequese. Não se descuide da transmissão da fé (católica), a partir de um processo contínuo de iniciação cristã (catecumenato) e formação catequética e doutrinal em todos os âmbitos e para todas as idades. Serve de inspiração o Sínodo para a "Nova evangelização para a transmissão da fé cristã", acontecido em outubro de 2012, e que contou com a participação de cerca de 400 pessoas do mundo inteiro e a presença do então Papa Bento XVI.
A perda de fiéis católicos e os inúmeros desafios do mundo urbano deveriam suscitar na Igreja uma nova missionariedade, um novo esforço, um novo entusiasmo evangelizador. Isso vem do próprio mandato do Senhor ressuscitado aos apóstolos: "Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura" (Mc 16,15). E também: "Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mt 28,19-20). E ao prometer e anunciar a vinda do Espírito Santo: "vós sois testemunhas disso" (Lc 24,48).

O documento de Aparecida afirma que a "paróquia como comunidade de comunidades é a célula viva da Igreja e o lugar privilegiado no qual a maioria dos fiéis tem uma experiência concreta de Cristo e a comunhão eclesial"(DAp. N. 170).

Assim, o presente texto foi elaborado tendo como primeira referência a vida e a prática de Jesus. Ele é o modelo para nos orientarmos na missão de transformar a estrutura da paróquia em comunidade de comunidades. Em seguida, apresentam- se, de modo sintético, alguns elementos que a tradição cristã condensou como traços fundamentais da vida eclesial. Iluminados pela Palavra e pela tradição teológica serão identificados alguns desafios da realidade atual para a vida paroquial. Finalmente, apresenta- se um conjunto de propostas pastorais tendo em vista a renovação paroquial.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A treze de maio

A treze de maio na cova da iria,
No céu aparece a Virgem Maria.
Ave, ave, ave Maria!
Ave, ave, ave Maria!
Aos três pastorinhos, cercada de luz,
Visita Maria a mãe de Jesus.
Ave, ave, ave Maria!
Ave, ave, ave Maria!
A mãe vem pedir constante oração,
Pois só de Jesus nos vem a salvação.
Ave, ave, ave Maria!
Ave, ave, ave Maria!
Da agreste azinheira a virgem falou,
E aos três a senhora tranquilos deixou.
Ave, ave, ave Maria!
Ave, ave, ave Maria!
Então da Senhora o nome indagaram,
Do céu a mãe terna bem claro escutaram.
Ave, ave, ave Maria!
Ave, ave, ave Maria!
Se o mundo quiserdes da guerra livrar,
Fazei penitênciade tanto pecar.
Ave, ave, ave Maria!
Ave, ave, ave Maria!
A virgem lhes manda o terço rezar,
A fim de alcançarem da guerra o findar.
Ave, ave, ave Maria!
Ave, ave, ave Maria!
Com estes cuidados a mãe amorosa,
Do céu vem os filhos salvar corinhosa.
Ave, ave, ave Maria!
Ave, ave, ave Maria!
Ave, ave, ave Maria!
Ave, ave, ave Maria!

Aumento no número de católicos no mundo

size_590_2013-10-03T173846Z_1_BSPE9921D0O00_RTROPTP_4_MUNDO-VATICANO-REVISAO-CARDEAIS* População católica aumentou em 14 milhões de pessoas no mundo e passou de 1,214 bilhão para 1,228 bilhão entre 2011 e 2012.

O número de Católicos no mundo aumentou e em 2012 chegou a 1,228 bilhões de pessoas, segundo números do Anuário Estatístico Pontifício apresentado pelo Vaticano.

A população católica aumentou em 14 milhões de pessoas no mundo e passou de 1,214 bilhão para 1,228 bilhão entre 2011 e 2012, o equivalente a um aumento de 1,15%.

Trata-se de um aumento maior que o registrado pela população mundial no mesmo período, que foi de 1,1%.

Em 2012, 16 milhões de crianças e adultos foram batizados, segundo cifras do Vaticano, que estima que 17,5% da população mundial é católica.

No continente americano está mais de 63% da população católica, enquanto na Ásia estão apenas 3,2% dos católicos.

Em 31 de dezembro de 2012 havia 414.313 padres espalhados pelos cinco continentes. Na África e na Ásia é onde mais religiosos tem sido ordenados.

Em todo o mundo, existem 702.529 freiras.
Fonte: http://blog.comshalom.org/carmadelio/40773-populacao-catolica-aumentou-em-14-milhoes-de-pessoas-mundo-e-passou-de-1214-bilhao-para-1228-bilhao-entre-2011-e-2012

Crise do compromisso comunitário e as tentações que os catequistas precisam evitar

papa evangelli
Por Dom Vilson Dias de Oliveira, DC

(Cap. II da Exortação Apostólica “Evangellii Gaudium”)

CRISE DO COMPROMISSO COMUNITÁRIO
Para se entender “a crise do compromisso comunitário” é preciso analisar alguns aspectos de nosso tempo. Os estudiosos têm usado a expressão “mudança de época” para nos alertar que é mais profunda do que simplesmente algumas transformações culturais; a mudança de época tange as estruturas sociais, os critérios de julgamento, os valores que permeiam nossas relações, as formas do pensamento, a maneira como compreendemos o mundo, a vida, a economia, a sociedade. É uma mudança de paradigma, as respostas que tínhamos para as questões que nos intrigavam não servem mais. Não se admite que haja uma única resposta para os problemas, serão sempre “respostas”, no plural, que variam conforme o ponto de vista do autor, de suas escolhas ideológicas, seus interesses. Cada um terá a “sua” verdade, a “sua” interpretação dos fatos, o “seu” pensamento sobre os quais ninguém pode confrontar, descredenciar. É direito adquirido. “Eu penso assim e ponto!”O papa Bento XVI já havia nos advertido a respeito do “relativismo” que tomou conta de nossas escolas, famílias, tvs, internet, comunidades…. “cada um escolhe o que lhe convêm, a resposta que mais lhe agrada…”. É a impotência da objetividade diante da avalanche do subjetivismo e da hiper valorização do indivíduo. Se cada pessoa faz suas escolhas a partir de seus interesses, do “que lhe agrada”, então é a derrocada das relações interpessoais, o “outro” só é necessário na medida em que me serve, me ajuda, me favorece. Qualquer tentativa de criar relações só funcionará na medida em que me “agradarem” ou me servirem. É uma faceta da crise da vida comunitária.

Diz o Papa Francisco na Exortação Apostólica “Evangelii Gaudium”:

 “A humanidade vive, neste momento, uma viragem histórica, que podemos constatar nos progressos que se verificam em vários campos. São louváveis os sucessos que contribuem para o bem-estar das pessoas, por exemplo, no âmbito da saúde, da educação e da comunicação. Todavia não podemos esquecer que a maior parte dos homens e mulheres do nosso tempo vive o seu dia a dia precariamente, com funestas consequências. Aumentam algumas doenças. O medo e o desespero apoderam-se do coração de inúmeras pessoas, mesmo nos chamados países ricos. A alegria de viver frequentemente se desvanece; crescem a falta de respeito e a violência, a desigualdade social torna-se cada vez mais patente. É preciso lutar para viver, e muitas vezes viver com pouca dignidade. Esta mudança de época foi causada pelos enormes saltos qualitativos, quantitativos, velozes e acumulados que se verificam no progresso científico, nas inovações tecnológicas e nas suas rápidas aplicações em diversos âmbitos da natureza e da vida. Estamos na era do conhecimento e da informação, fonte de novas formas dum poder muitas vezes anônimo.” (EG 52)

  São várias as dimensões da crise comunitária, vamos olhar pelo menos três delas: a dimensão econômica, social e religiosa. Elas se implicam umas nas outras, somente a título de estudo e que as separamos:

                1. Dimensão econômica: as relações humanas estão marcadamente condicionadas pelas relações de poder econômico. Os interesse financeiros se sobrepõem aos direitos de viver, de ir e vir, de estudar, de cuidar da saúde… Subordinada ao dinheiro a vida vira mercadoria. Se uma vida não gera lucros, torna-se dispensável, descartável. Neste sentido se fala de “massas sobrantes”. É o “horror econômico”!  Com isto aumentam-se as divisões sociais, a miséria, os conflitos urbanos e a violência.

“Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum. Instaura-se uma nova tirania invisível, às vezes virtual, que impõe, de forma unilateral e implacável, as suas leis e as suas regras. Além disso, a dívida e os respectivos juros afastam os países das possibilidades viáveis da sua economia, e os cidadãos do seu real poder de compra. A tudo isto vem juntar-se uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais. A ambição do poder e do ter não conhece limites. Neste sistema que tende a fagocitar tudo para aumentar os benefícios, qualquer realidade que seja frágil, como o meio ambiente, fica indefesa face aos interesses do mercado divinizado, transformados em regra absoluta.” (EG 56)

PARA PENSAR:

Como catequistas,qual nossa opinião a respeito dessa economia que exclui e gera competições desumanas? Não é comum as pessoas dizerem: “amigos, amigos; negócios à parte”? O que Jesus diria disso? É possível viver num mundo do “salve-se quem puder”? O quanto tudo isto afeta nossa vida de comunidade?

O Papa Francisco, em sua exortação apostólica Evangelii Gaudium, sugere que digamos: não à essa economia de exclusão! Não à idolatria do dinheiro! Não à um dinheiro que governa em vez de servir!

            2. Dimensão social: com a globalização da economia, também globalizou-se a pobreza e a miséria. As sociedades se estratificaram ainda mais. Há cada vez menos ricos com mais dinheiro e mais pobres com menos recursos. Cria-se o fosso social. Esta desigualdade de oportunidades revela-se no mundo do trabalho, de estudo, de condições de vida. Isto gera insegurança e violência. Gasta-se mais tempo indo e vindo do trabalho e menos na convivência familiar, na educação dos filhos. O subemprego leva a ter “que se virar nos trinta” para conseguir sobreviver.  Compreende-se aqui o aliciamento do mundo das drogas que introduzem os jovens no mundo do crime com a esperança de uma vida melhor, o tráfico humano, a prostituição juvenil em troca de favores, o trabalho escravo e infantil. Os conflitos sociais aumentam à medida em que cresce a desigualdade de oportunidades. A ideologia “do ter para ser feliz” seduz também os empobrecidos, que inventam formas de se projetar: rollezinhos, baile funk…

Também aqui o Papa Francisco sugere: não à desigualdade social que gera violência!

              3. Dimensão religiosa: um mundo marcadamente desigual, violento e excludente favorece o aparecimento de “vários discursos religiosos”, com uma infinidade de ofertas e busca de fieis. Há um mercado religioso, no qual nos tornamos “uma igreja” em meio a centenas. Neste mercado oferece-se cura, milagres, salvação, enriquecimento, prosperidade…

             Diz o papa nos números 63 e 64 da “Evangelii Gaudium”:

(63) “A fé católica de muitos povos encontra-se hoje perante o desafio da proliferação de novos movimentos religiosos, alguns tendentes ao fundamentalismo e outros que parecem propor uma espiritualidade sem Deus. Isto, por um lado, é o resultado duma reação humana contra a sociedade materialista, consumista e individualista e, por outro, um aproveitamento das carências da população que vive nas periferias e zonas pobres, sobrevive no meio de grandes preocupações humanas e procura soluções imediatas para as suas necessidades. Estes movimentos religiosos, que se caracterizam pela sua penetração sutil, vêm colmar, dentro do individualismo reinante, um vazio deixado pelo racionalismo secularista. Além disso, é necessário reconhecer que, se uma parte do nosso povo batizado não sente a sua pertença à Igreja, isso deve-se também à existência de estruturas com clima pouco acolhedor nalgumas das nossas paróquias e comunidades, ou à atitude burocrática com que se dá resposta aos problemas, simples ou complexos, da vida dos nossos povos. Em muitas partes,  predomina o aspecto administrativo sobre o pastoral, bem como uma sacramentalização sem outras formas de evangelização.

“O processo de secularização tende a reduzir a fé e a Igreja ao âmbito privado e íntimo. Além disso, com a negação de toda a transcendência, produziu-se uma crescente e deformação ética, um enfraquecimento do sentido do pecado pessoal e social e um aumento progressivo do relativismo; e tudo isso provoca uma desorientação generalizada, especialmente na fase tão vulnerável às mudanças da adolescência e juventude” (EG 64).

É claro que é preciso ressaltar o quanto, apesar de tantas críticas e ataques,a Igreja Católica é ainda uma instituição de muita credibilidade, confiável pela maioria da opinião pública sobretudo no que diz respeito à solidariedade e preocupação com os miseráveis, como medianeira em soluções de conflitos e defesa dos direitos humanos, como aquela que favorece o conhecimento através de universidade e escolas católicas.

          PARA PENSAR:

           Os nossos catequistas percebem essa realidade desafiadora para a vida comunitária? Quepoderíamos fazer para fortalecer nosso compromisso comunitário diante dessas forças contrárias?

AS TENTAÇÕES QUE OS CATEQUISTAS PRECISAM ADQUIRIR:
São muitas qualidades que uma pessoa tem de ter para ser catequista. A seguir elenco algumas dessas características:

Pessoa que fez uma experiência de Deus, encontrou e continua encontrando-o nos irmãos e nos acontecimentos da História
Pessoa de fé
Pessoa que busca um equilíbrio psíquico-espiritual
Pessoa aberta ao novo
Pessoa solidária
Pessoa que busca crescer sempre, num processo contínuo de evolução
Pessoa estudiosa e praticante da Palavra de Deus
Pessoa que tem esperança
Pessoa que gosta de gente
Pessoa que respeita a cultura popular
Pessoa alegre, disponível
Pessoa que procura ama e vive para amar gratuitamente
Pessoa que se sente parte do Corpo de Cristo
Pessoa de igreja
Pessoa que gosta de servir
Pessoa que perdoa
Pessoahonesta
Mistagogo
PARA PENSAR:

Diante de uma visão tão idealizada, quais são astentações dos catequistas hoje? E como resisti-las e superá-las?

 II – AS  TENTAÇÕES QUE OS CATEQUISTAS PRECISAM EVITAR:

São muitas as tentações dos catequistas hoje. A seguir vou apresentar 7 tentações, não porque sejam as mais importantes, mas porque para um processo de superação deve-se começar aos poucos. Se dermos conta de 7, depois veremos outras 7 e assim por diante.

Individualismo da fé.
              A preocupação com a felicidade pessoal chegou a tal ponto que as pessoas buscam atingir espaços de gratificação, de relaxamento, de conforto, de autonomia, de tranquilidade, de alívio… Dessa forma a vida espiritual boa é aquela que conduz o fiel à essa experiência gratificante. Busca-se uma religião que satisfaça essas necessidades imediatamente, que cumpra esse papel gratificador, que não seja exigente, nem comprometedora, aonde se possa receber “boas energias”, “bons fluidos”… uma religião que se torna um apêndice da vida e não compromete a pessoa, nem a leva a um encontro definitivo e profundo com Deus, com os irmãos. Uma religião light. Aqui há um declínio do fervor, uma miscelânea de doutrinas e ideias teológicas, uma confusão de identidades. Apregoa-se o crer em Deus, sem Igreja.

“A cultura midiática e alguns ambientes intelectuais transmitem às vezes, uma acentuada desconfiança quanto à mensagem da Igreja, e um certo desencanto. Em consequência disso, embora rezando, muitos agentes de pastorais desenvolvem uma espécie de complexo dei inferioridade que os leva a relativizar ou esconder a sua identidade cristã e as suas convicções. Gera-se então um círculo vicioso, porque assim não se sentem felizes com o que são nem com o que fazem, não se sentem identificados com a missão evangelizadora, e isto debilita a entrega. Acabam assim por sufocar a alegria da missão numa espécie de obsessão por serem como todos os outros e terem o que possuem os demais. Deste modo, a tarefa da evangelização torna-se forçada e dedicasse-lhe pouco esforço e um tempo muito limitado.” (EG 79)

            O universo das comunicações, com seus tantos recursos midiáticos, os ambientes intelectuais (universidades, escolas…) cooperam para aumentar uma certa desconfiança com relação ao papel da igreja, de seus representantes. Muitas vezes há um esforço para descredenciar o discurso religioso e eclesial. Em consequência disto muitos catequistas, quando enfrentam esses ambientes, sentem-se inferiorizados, envergonhados e não se encorajam para defender sua identidade. Às vezes porque não se sentem preparados, outras porque ficam confusos em meio a tantas informações. Passam assim a esconder sua identidade cristã-católica e convicções.

            Há ainda o risco de um afastamento cada vez maior entre fé e vida, como se uma realidade não implicasse na outra. O “ser catequista” não interfere na vida pessoal, não há ponto de encontro entre uma coisa e outra, assim é possível encontrarmos catequistas que não se importam com os pobres, que passam por sobre os colegas para galgar vantagens, que se deixam seduzir pelas novelas, que não rezam, que não participam das missas na comunidade, que se agarram a seguranças econômicas ou a espaços de poder e glória humana, que buscam mais a si do que a Deus. É preciso resistir a essa tentação! Não deixemos que nos roubem o entusiasmo missionário! Ou que nos separem de Cristo!

Não ao desânimo egoísta
               A segunda tentação que precisamos estar atentos é o desânimo que brota do egoísmo. Hoje em dia é muito difícil encontrar pessoas para trabalharem na igreja, ninguém tem tempo! Na verdade não se quer dispor do tempo livre para realizar tarefas apostólicas, ser catequista. Há uma consciência muito grande do direito ao descanso, ao lazer, ao cuidar de si que beira ao egoísmo. As pessoas gastam a maior parte do seu tempo obsessivamente atrás de si, por isto resistem a tudo o que ameace esses espaços “sagrados” de autonomia e centralização em si, é como se a tarefa da catequese ou da evangelização, os trabalhos pastorais roubassem esse precioso tempo! Não veem essa doação como uma resposta alegre ao amor de Deus, que nos plenifica e fecunda. Este fechamento leva ao desânimo paralisador!

                   A dificuldade está na falta de uma espiritualidade que impregne a ação e a torne desejável. O cansaço não é feliz, mas tenso, desagradável, irritante. Muitas vezes a catequese é vista como obrigação, sem motivação. São várias as causas desse mal estar: idealização excessiva, irrealizável; imediatismo que desconsidera o processo histórico numa pressa em obter resultados; vaidades, desorganização, falta de planejamento, apego ao passado, falta de sensibilidade pastoral, interesses pessoais acima dos interesses comunitários, intolerância com os erros dos irmãos, excesso de ideias e burocracias que inoperantes…

“Assim se gera a maior ameaça, que «é o pragmatismo cinzento da vida quotidiana da Igreja, no qual aparentemente tudo procede dentro da normalidade, mas na realidade a fé vai-se deteriorando e degenerando na mesquinhez». Desenvolve-se a psicologia do túmulo, que pouco a pouco transforma os cristãos em múmias de museu. Desiludidos com a realidade, com a Igreja ou consigo mesmos, vivem constantemente tentados a apegar-se a uma tristeza melosa, sem esperança, que se apodera do coração como «o mais precioso elixir do demónio». Chamados para iluminar e comunicar vida, acabam por se deixar cativar por coisas que só geram escuridão e cansaço interior e corroem o dinamismo apostólico. Por tudo isto, permite que insista: Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização!” (EG 83).

É preciso dizer não ao pessimismo estéril! Resistir a esta tentação!

Não ao pessimismo estéril
A terceira tentação para os catequistas é perder a força e o ânimo diante das mazelas operantes no mundo e na igreja. Coisas ruins acontecem. Muitas vezes fracassamos. Contudo isto não deve tirar nossa esperança. Aquele que crê é capaz de ver o trigo no meio do joio, a água que se transforma em vinho, a luz na escuridão.  Há os profetas da desgraça, que apregoam o fim da fé, da igreja, a morte de Deus; não podemos nos deixar levar pelas suas palavras. É preciso lembrar o que Jesus diz a S. Paulo “Basta-te a minha graça; pois é na fraqueza que a força se realiza plenamente” (2Cor 12,9). Não se trata de tapar o sol com a peneira, as dificuldades existentes devem ser enfrentadas. O mal existe, mas nossa esperança está em Deus, que não nos abandona e nos encoraja para a luta!

É preciso vencer o pessimismo! Não deixemos que nos roubem a esperança!

“Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que nos transforma em pessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre. Ninguém pode empreender uma luta, se de antemão não está plenamente confiado no triunfo. Quem começa sem confiança, perdeu de antemão metade da batalha e enterra os seus talentos. Embora com a dolorosa consciência das próprias fraquezas, há que seguir em frente, sem se dar por vencido, e recordar o que disse o Senhor a São Paulo: «Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza» (2 Cor 12, 9). O triunfo cristão é sempre uma cruz, mas cruz que é, simultaneamente, estandarte de vitória, que se empunha com ternura batalhadora contra as investidas do mal. O mau espírito da derrota é irmão da tentação de separar prematuramente o trigo do joio, resultado de uma desconfiança ansiosa e egocêntrica” (EG 85).

Não ao isolamento
            Em tempos de desconfiança, violência e individualismo, cada vez mais as pessoas se fecham. A falta de tempo, a intolerância, levam as pessoas a acreditarem no “cada um por si e Deus por todos!”. Com istovalores que são essenciais para os seguidores de Jesus, como solidariedade, amizade, compaixão, entram em desuso. O catequista deve esforçar-se para combater esse isolamento, descobrindo a mística que nasce do viver juntos, da comunidade, do mútuo apoio em horas difíceis, da experiência de fraternidade, de ser povo de Deus, peregrino….assim o catequista é aquele que faz o caminho com os outros, que vai junto com os irmãos, numa alegre e difícil travessia da vida, fazendo história comunitária.

                O isolamento quase sempre desemboca num individualismo doentio, deprimente e num uso da religião como mercadoria, remédio para as tristezas pessoais. Em nosso tempo nem sempre busca-se a religião por causa de Deus, muitas vezes é por causa egoísta e humana, simplesmente, quer-se um Deus que sirva e realize as vontades individuais.

                 Jesus ensina os catequistas a criar e manter relacionamentos novos, a enxergar em cada irmão um próximo a ser servido e amado.

“Nisto está a verdadeira cura: de fato, o modo de nos relacionarmos com os outros que, em vez de nos adoecer, nos cura é uma fraternidade mística, contemplativa, que sabe ver a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar as moléstias da convivência agarrando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para procurar a felicidade dos outros como a procura o seu Pai bom. Precisamente nesta época, inclusive onde são um «pequenino rebanho» (Lc12, 32), os discípulos do Senhor são chamados a viver como comunidade que seja sal da terra e luz do mundo (cf. Mt5, 13-16). São chamados a testemunhar, de forma sempre nova, uma pertença evangelizadora. Não deixemos que nos roubem a comunidade!” (EG 92).

                   Os catequistas devem resistir ao isolamento! Dizer sim à vida em comunidade, às relações fraternas.

Não ao mundanismo espiritual
            Talvez essa seja, das tentações, a mais difícil de lidar, porque ela vem “maquiada” com cara de boa, é “lobo vestido de cordeiro!”.  Podemos vê-la quandoum grupo de catequistas se põe de guarda fiel da doutrina da igreja, dos ensinamentos de Jesus e assim julga e condena  os demais. Do alto de suas “verdades”ele analisa, classifica, aprova, exclui, condena os demais. Está sempre de vigilância, apegado a certos tradicionalismos ou seguranças a um estilo antigo de igreja, vive querendo repetir o passado, não percebe, nem aceita a ação inovadora do Espírito. Com medo do novo ele impõe os velhos esquemas. Cheio de ideias, perito em dar ordem aos demais, de dizer como deveriam ser as coisas, não se mexe, nem mexe uma “palha com a ponta de seus dedos!” Muitas vezes é rigorista, mostra-se zeloso com as coisas da Igreja, envaidece-se com suas liturgias, com os rituais, com a sabedoria da doutrina, mas esquecem-se do Evangelho! No fundo é uma busca de glória, de reconhecimento quer de si mesmo ou da Igreja, em prejuízo da mensagem de Jesus, do Evangelho! É bom lembrar: a igreja é servidora do Evangelho e não o contrário!

“Quem caiu neste mundanismo olha de cima e de longe, rejeita a profecia dos irmãos, desqualifica quem o questiona, faz ressaltar constantemente os erros alheios e vive obcecado pela aparência. Circunscreveu os pontos de referência do coração ao horizonte fechado da sua imanência e dos seus interesses e, consequentemente, não aprende com os seus pecados nem está verdadeiramente aberto ao perdão. É uma tremenda corrupção, com aparências de bem. Devemos evitá-lo, pondo a Igreja em movimento de saída de si mesma, de missão centrada em Jesus Cristo, de entrega aos pobres. Deus nos livre de uma Igreja mundana sob vestes espirituais ou pastorais! Este mundanismo asfixiante cura-se saboreando o ar puro do Espírito Santo, que nos liberta de estarmos centrados em nós mesmos, escondidos numa aparência religiosa vazia de Deus. Não deixemos que nos roubem o Evangelho!” (EG 97).

Não à guerra entre nós
Há no mundo muitos conflitos, países guerreando entre si, agora mesmo estamos acompanhando a questão da Ucrânia, Rússia e Estados Unidos. A guerra é um mal, é a incompetência humana, a falência do diálogo, do perdão.

“O mundo está dilacerado pelas guerras e a violência, ou ferido por um generalizado individualismo que divide os seres humanos e põe-nos uns contra os outros visando o próprio bem-estar. Em vários países, ressurgem conflitos e antigas divisões que se pensavam em parte superados. Aos cristãos de todas as comunidades do mundo, quero pedir-lhes de modo especial um testemunho de comunhão fraterna, que se torne fascinante e resplandecente. Que todos possam admirar como vos preocupais uns pelos outros, como mutuamente vos encorajais animais e ajudais: «Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros» (Jo 13, 35). Foi o que Jesus, com uma intensa oração, Jesus pediu ao Pai: «Que todos sejam um só (…) em nós [para que] o mundo creia» (Jo 17, 21). Cuidado com a tentação da inveja! Estamos no mesmo barco e vamos para o mesmo porto! Peçamos a graça de nos alegrarmos com os frutos alheios, que são de todos” (EG 99)

Infelizmente,às vezes, esse espírito de contenda e disputa penetra a vida das comunidades cristãs. Não é raro vermos catequistas disputando atenção, competindo pelo reconhecimento de seus trabalhos, movidas pela inveja, ciúme, vaidades. Neste contexto é importante que tomemos consciência do que significa participar da Igreja, aonde todos os membros são importantes, cada um com seus dons e qualidades, que não anulam, nem ofuscam os dos demais. O mandamento do amor deve permear nossas relações e findar as guerras. Somente quem compreendeu o que significa “vede como se amam!” é que é capaz de lançar mão do perdão, do resgate do diálogo, da paciência com os erros e quedas dos outros, da libertação de se ter novas chances sendo perdoado!  Rezar por aqueles que nos ofenderam.

Resistamos às guerras e não deixemos que nos roubem o amor fraterno!

Não ao clericalismo

O Concílio Vaticano II nos ajudou a compreender a Igreja como Povo de Deus e a resgatar o papel dos leigos na comunidade. Contudo, por falta de formação, por busca de poder, muitas vezes alguns catequistas exercem uma liderança autoritária. Por serem competentes, muitas vezes com qualidades que se sobressaem, ocupam lugares de relevância nas comunidades e, infelizmente, exercem o serviço como poder, querem que suas ideias prevaleçam, que as coisas aconteçam segundo sua determinação. Normalmente são pessoas competitivas, vaidosas e dominadoras.  É preciso voltar a Jesus e reparar na sua maneira de servir, lavando os pés. A autoridade não brota da força da dominação, mas do exemplo daqueles que amam. Quando isto não é percebido muitos se afastam da comunidade, passa-se a espelhar não o rosto de Jesus, mas do fulano ou fulana que mandam na igreja. É uma reprodução ruim dos esquemas de poder vigente no mundo e na história. A comunidade servidora não está fechada nela mesma, está disposta a sair de si e servir e transformar a sociedade.

“A configuração do sacerdote com Cristo Cabeça – isto é, como fonte principal da graça – não comporta uma exaltação que o coloque por cima dos demais. Na Igreja, as funções «não dão justificação à superioridade de uns sobre os outros». Com efeito, uma mulher, Maria, é mais importante do que os Bispos. Mesmo quando a função do sacerdócio ministerial é considerada «hierárquica», há que ter bem presente que «se ordena integralmente à santidade dos membros do corpo místico de Cristo». A sua pedra de fecho e o seu fulcro não são o poder entendido como domínio, mas a potestade de administrar o sacramento da Eucaristia; daqui deriva a sua autoridade, que é sempre um serviço ao povo. Aqui está um grande desafio para os Pastores e para os teólogos, que poderiam ajudar a reconhecer melhor o que isto implica no que se refere ao possível lugar das mulheres onde se tomam decisões importantes, nos diferentes âmbitos da Igreja” (EG 104).

No espaço comunitário e catequético os jovens, as crianças, as mulheres e os anciãos deveriam reconhecer-se, tornando-o como espaço seu de convivência, de experiência de amor desinteressado, gratuito. Neste sentido é preciso abolir qualquer tipo de ditadura e promover a inserção, a acolhida generosa de todos! Digamos não ao poder centralizador e autoritário! Busquemos a formação de lideranças democráticas, capazes de diálogo e serviço.

O Papa Francisco traz uma palavra aos jovens e sua importância na comunidade cristã, recordando a importância do seu papel e do seu engajamento nas comunidades e paróquias e na busca de caminhos novos para os mesmos:

“A pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a desenvolvê-la, sofreu o impacto das

mudanças sociais. Nas estruturas ordinárias, os jovens habitualmente não encontram respostas para as suas preocupações, necessidades, problemas e feridas. A nós, adultos, custa-nos ouvi-los com paciência, compreender as suas preocupações ou as suas reivindicações, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles entendem. Pela mesma razão,

as propostas educacionais não produzem os frutos esperados. A proliferação e o crescimento de associações e movimentos predominantemente juvenis podem ser interpretados como uma ação do Espírito que abre caminhos novos em sintonia com as suas expectativas e a busca de espiritualidade profunda e dum sentido mais concreto de pertença. Todavia é necessário tornar mais estável a participação destas agregações no âmbito da pastoral de conjunto da Igreja” (EG 105).

Finalmente recorda a escassez das vocações sacerdotais e religiosas em nossa igreja, recorda-nos que é preciso um grande ardor apostólico para suscitar o chamado de Cristo à muitos jovens presentes em nossas comunidades, bem como nossas orações ao Senhor da messe que envie trabalhadores à sua messe:

“Em muitos lugares, há escassez de vocações ao sacerdócio e à vida consagrada. Frequentemente isso se fica a dever à falta de ardor apostólico contagioso nas comunidades, pelo que estas não entusiasmam nem fascinam. Onde há vida, fervor, paixão de levar Cristo aos outros, surgem vocações genuínas. Mesmo em paróquias onde os sacerdotes não são muito disponíveis nem alegres, é a vida fraterna e fervorosa da comunidade que desperta o desejo de se consagrar inteiramente a Deus e à evangelização, especialmente se essa comunidade vivente reza insistentemente pelas vocações e tem a coragem de propor aos seus jovens um caminho de especial consagração. Por outro lado, apesar da escassez vocacional, hoje temos noção mais clara da necessidade de melhor seleção dos candidatos ao sacerdócio. Não se podem encher os seminários com qualquer tipo de motivações, e menos ainda se estas estão relacionadas com insegurança afetiva, busca de formas de poder, glória humana ou bem-estar económico” (EG 107).

CONCLUSÃO

                Somos muitos catequistas, no Brasil estamos do Oiapoque ao Chuí, dos rincões amazônicos, com os ribeirinhos e as comunidades indígenas, aos prédios e casas nas grandes cidades. Estamos em nossa Diocese, com suas comunidades e paróquias. Somos jovens, adultos, velhos, mulheres e homens, pobres e ricos, letrados e analfabetos, contudo temos um só desejo: anunciar o Reino de Deus a todos, testemunhar que o amor é mais forte que o ódio, que a vida vence a morte. Que esta mensagem é para todos, de todos os lugares e culturas. Por causa do Reino nós deixamos nossas casas, nossas famílias, nosso conforto; por causa do Reino nós estudamos, nos preparamos e rezamos em comunidade; por causa do Reino suportamos chuva, frio e sol, humilhações e perseguições. Por causa do Reino nós encontramos alegria em meio as tristezas, força diante do medo, luz nas trevas. Tudo por causa do Reino prometido por Jesus. Não esmorecemos, nem desistimos. Porque sabemos que Deus está conosco, caminha conosco, nos encoraja e anima. Com Ele somos corajosos, capazes de vencer todo individualismo e tentações.

“Os desafios existem para ser superados. Sejamos realistas, mas sem perder a alegria, a audácia e a dedicação cheia de esperança. Não deixemos que nos roubem a força missionária!“ (EG 109).

+ Dom Vilson Dias de Oliveira, DC

Bispo Diocesano de Limeira
Fonte: http://diocesedelimeira.org.br/crise-do-compromisso-comunitario-e-as-tentacoes-que-os-catequistas-precisam-evitar/

Mensagem da CNBB por ocasião das eleições 2014: “Pensando o Brasil”


A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil divulgou na sexta-feira, 9 de maio, durante entrevista coletiva, a mensagem “Pensando o Brasil: desafios diante das eleições 2014″, aprovada pelos bispos do Brasil reunidos na 52ª Assembleia Geral, em Aparecida (SP). Atenderam a imprensa o Arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da CNBB, Cardeal Raymundo Damasceno Assis; o Arcebispo de São Luís (MA) e vice-presidente, Dom José Belisário; o Bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário geral, Dom Leonardo Steiner.

Na entrevista, cardeal Raymundo Damasceno Assis explicou que o texto “contém importantes reflexões para os cristãos e para toda a sociedade” que neste ano irão eleger presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. “Com este texto, fazemos uma convocação aos brasileiros para que exerçam o voto de forma consciente”, exortou.

Dom Damasceno destacou três pontos fundamentais do texto: participação consciente nas eleições; a necessidade de conhecer os candidatos, sua história, e quais princípios e valores eles praticam e defendem; buscar candidatos que tenham compromisso com tantas reformas necessárias no país, especialmente a Reforma Política, que tem apoio da CNBB e outras entidades.

LEIA A NOTA NA ÍNTEGRA

PENSANDO O BRASIL: DESAFIOS DIANTE DAS ELEIÇÕES 2014

DESAFIOS DA REALIDADE SOCIOPOLÍTICA

1. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) entende que é responsabilidade de todo cidadão, participar, conscientemente, da escolha de seus representantes. Para os cristãos tal escolha deve ser iluminada pela fé e pelo amor cristãos, os quais exigem a universalização do acesso às condições necessárias para a vida digna de filhos de Deus. Afinal, “ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos. Uma fé autêntica – que nunca é cómoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela”.

2. Nossa fé requer que “todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Ao contrário disso, constatamos que irmãos nossos têm sido maltratados e muitos, inclusive, perderam e continuam perdendo a vida à espera de serviços públicos. Enquanto isso, outros se corrompem e enriquecem com recursos que deveriam ser destinados a políticas que atendam às necessidades do povo. Os meses que antecedem as eleições constituem
um momento privilegiado para a reflexão sobre tais situações injustas que se alastram no País. É uma oportunidade para anunciar qual é o plano de Deus para seus filhos. Somos chamados a empenhar-nos em viver o evangelho do Reino na esperança de vê-lo antecipado na terra, ainda que sob o signo da Cruz. Isso exige que trabalhemos pela superação dos sofrimentos atrozes vividos por aqueles que são sistematicamente excluídos e que não se veem respeitados em sua dignidade de pessoa humana.

3. As eleições que ocorrerão em outubro deste ano se revestem de um significado especial para o País. Os cristãos comprometidos com a vivência de sua fé e todos os homens e mulheres de boa vontade são chamados a ações mais efetivas. Nesta eleição, pessoas que já tiveram condenação judicial em segunda instância estarão impedidas de se apresentarem como candidatas. Esse fato – resultado da chamada “Lei da Ficha Limpa” (Lei 135/210) – um fruto da mobilização e da participação política dos brasileiros que, no exercício de sua cidadania, fizeram valer seu desejo de não serem representados por quem
não encarne os valores da ética e do compromisso com a sociedade. Essa lei criou a possibilidade de uma efetiva renovação, já que vários políticos – acostumados a usar cargos eletivos como profissão e a se beneficiarem do exercício de suas funções para proveito próprio e não como serviço ao público – estarão, agora, forçados a deixar a disputa eleitoral. Esta é uma importante conquista para a democracia brasileira.

4. Desta vez os cidadãos brasileiros vão às urnas depois das significativas manifestações de junho e julho de 2013, quando milhares de pessoas ocuparam as ruas exigindo melhores serviços de transporte, de saúde, de educação, além de outras tantas demandas por políticas públicas realmente comprometidas com os interesses populares. Destaca-se no “discurso das ruas”, também, a insatisfação com a maneira como políticos eleitos vêm exercendo o poder, distanciados das necessidades da população, fazendo da política um balcão de negócios, onde se barganha bens da coletividade como se fossem particulares. O  direito de representar os eleitores, que um candidato conquista nas urnas, tem de ser  assumido pelo político como um dever de servir. Ao contrário disso, uma lógica perversa  tem pautado a atuação de inúmeros eleitos, desvirtuando a finalidade da própria política  que, ao invés de tratar do bem comum, se converte em espaço de conchavos e negociações espúrias. O protesto das ruas pode ser compreendido como um clamor contra o poder que se torna fim em si mesmo e que deixa, portanto, de ser verdadeira representação popular.

5. A mudança dessas situações de injustiça e desigualdade requer a intervenção dos cristãos na política, como eleitores ou como candidatos. Problemas políticos exigem ação política; uma cidadania ativa. Os cristãos devem contribuir oferecendo à sociedade sua proposta de construção de um mundo mais justo e igualitário. Está cada vez mais claro que “não basta fazer o diagnóstico da atual crise; impõe-se também uma tomada de decisão sobre os meios mais justos e eficientes para a sua superação, e esta é uma decisão política”

PARTICIPAÇÃO DOS CRISTÃOS NA POLÍTICA

6. A fé, à luz dos evangelhos, não deve ser entendida como simples mergulho numa interioridade mística, em busca de paz individual. Uma experiência cristã madura impõe o enfrentamento da realidade e sua transformação para que todos tenham vida em plenitude. O Papa Francisco lembra a importância da participação política dos cristãos e sua responsabilidade na difícil, porém necessária, construção de uma sociedade mais justa: “devemos envolver-nos na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum”. Segundo o Papa, se a política se tornou uma coisa “suja”, isso se deve também ao fato de que “os cristãos se envolveram na política sem espírito evangélico”. É preciso que o cristão deixe de colocar em outras pessoas a responsabilidade pela situação atual da sociedade e que cada um passe a perguntar a si mesmo o que pode fazer para tornar concreta a mudança que se deseja.

7. Os períodos eleitorais constituem-se em momento propício à participação dos cristãos, de quem se espera conscienciosa atuação no processo decisório sobre aqueles que conduzirão a coisa pública. Mas, não basta o voto. Para além das urnas, deve-se proceder ao rigoroso acompanhamento do trabalho dos eleitos – por meio do monitoramento de suas ações, projetos e gastos – exigindo que exercitem de fato a representação que lhes foi conferida. Todos os cristãos são convidados a se dedicarem a essa iniciativa. A cada discussão, a cada reunião, a cada voto consciente, a cada momento em que um cidadão se decide a favor da honestidade, do bem comum e contra a corrupção aprimora-se, em mútua cooperação, a democracia.

8. Ao nos aproximarmos das urnas, devemos ter a consciência de que – embora o voto constitua um momento privilegiado de participação cidadã numa democracia representativa – está longe de encerrar-se a responsabilidade cristã. A decisão consciente de votar em candidatos que representem os valores cristãos é um passo importante, mas não é o único. É preciso que, como cristãos, continuemos a contribuir para que haja um diálogo que aponte às mudanças necessárias na consolidação de uma cidadania inclusiva, de modo a garantir que a sociedade possa participar e exercer democraticamente o poder político.

9. A participação política não se restringe aos atos formais de votar ou de se reunir em associações comunitárias, sindicatos e partidos políticos, mas também inclui a participação em grupos culturais, étnicos, que ocorrem fora dos espaços institucionais previamente definidos pelos limites da democracia representativa. Com essa concepção, ganha especial importância o monitoramento dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Tal tarefa deve ser realizada por grupos de acompanhamento do legislativo, nas esferas municipal, estadual e federal; por conselhos de fiscalização de políticas públicas; por interessados em compreender e popularizar os processos judiciários; e por cidadãos interessados em fiscalizar a ação dos poderes públicos e que se dispõem a sugerir e a propor políticas que atendam suas necessidades específicas. Esses grupos devem ser formados de modo apartidário e não confessional. Essa prática, se for sistemática, também poderá contribuir para estimular a necessária autonomia e o exercício da competência própria por cada um dos poderes, no cumprimento de suas funções constitucionais.

10. O monitoramento dos poderes públicos deve se pautar pela defesa obstinada dos valores éticos, pelo combate incessante à corrupção, pela luta contra a violência em suas diversas manifestações: a violência doméstica, os excessos das forças policiais, o narcotráfico, o tráfico de pessoas e de armas; toda ação que, de qualquer maneira, atente contra a liberdade e negligencie o bem comum.

11. Para além das ações de monitoramento dos poderes públicos, o combate à corrupção implica a defesa dos valores éticos, da inviolabilidade da vida humana, da promoção e resgate da unidade e estabilidade da família, do direito dos pais a educar seus filhos de acordo com suas convicções, da justiça e da paz, da democracia e do bem comum. O combate à corrupção deve permear toda e qualquer ação cotidiana, na vida familiar, no mundo do trabalho, nas práticas religiosas. Combater a corrupção significa enfrentar até mesmo os pequenos atos cometidos no cotidiano, os quais – não obstante a sua aparente
insignificância – acabam por corroer as relações sociais. Contudo, é indispensável combater a corrupção sistêmica e endêmica invisível e refinada, presente em práticas políticas e no mundo daqueles que exercem o poder econômico, que causa desigualdades entre países e aumenta os custos de uma nação.
12. Nas práticas sociais cotidianas, a corrupção tende a se tornar invisível. No dia a dia, não é comum que atitudes como a busca de apadrinhamento, a defesa de interesses particularistas no campo econômico e a obtenção de favorecimentos no campo social sejam nomeadas como atos corruptos. Esses atos supostamente menores não são nem pequenos, nem irrelevantes: eles acabam por cristalizar-se em atitudes que invadem as entranhas de uma cultura e que a contaminam em todo o seu sistema, gerando a impunidade, a falta de isonomia, e a privatização dos bens públicos. O fenômeno da
corrupção está presente em vários momentos da vida social. São desvios que permeiam o cotidiano em sociedade e que contaminam a máquina pública.

13. Se é verdade que se difundiu um sentimento de desconfiança, é igualmente importante reafirmar que há esperança. Afinal, o reconhecimento das dificuldades e impasses representa, na mesma medida, oportunidades de intervenção e mudanças. Há uma demanda por mais espaços de participação e por maior controle popular sobre os espaços republicanos de poder. Para responder a esse desejo de participação que tem emergido, novas estruturas devem ser pensadas. O momento do voto não esgota a possibilidade de ação do cidadão. A democracia que se deseja construir supõe a conquista de ambientes nos quais o povo, em toda a sua diversidade, possa exercer plenamente sua natureza política. O cristão deve ocupar todo e qualquer lugar que lhe permita, pautado por sua fé e sua esperança, contribuir na construção de outra prática política, firmada nos valores éticos de promoção e defesa da vida.

14. A Igreja deposita especial confiança na força transformadora que brota dos jovens. Nesse sentido, insiste para que se abram a eles “canais de participação e envolvimento nas decisões, que possibilitem uma experiência autêntica de corresponsabilidade, de diálogo, de escuta e o envolvimento no processo de renovação contínua da Igreja. Trata-se de valorizar a participação dos jovens nos conselhos, reuniões de grupos, assembleias, equipes, nos processos de avaliação e planejamento”. Essa pedagogia do engajamento na comunidade deve, por sua vez, motivar um envolvimento real dos jovens na construção de uma sociedade mais justa, impulsionando-os a uma participação mais efetiva nas decisões políticas.

URGÊNCIA DA REFORMA POLÍTICA

15. O Estado que hoje existe evidencia os limites da democracia representativa e, efetivamente, não responde às necessidades dos novos sujeitos históricos
. Anseia-se por novas formas de vivência democrática que reconheçam “o caráter pluricultural da nação e o direito à identidade cultural, individual e coletiva; a igual dignidade das culturas, rompendo com a supremacia institucional da cultura ocidental; o caráter de sujeito político dos povos de comunidades indígenas, campesinas, ribeirinhas e quilombolas, superando o tratamento tutelar destes povos como objetos de políticas ditadas por terceiros; o reconhecimento das diversas formas de participação, consulta e representação direta de povos indígenas, camponeses e afrodescendentes”6
. Nesse sentido, defende-se a democracia participativa como forma de ampliar os canais de participação do povo na vida política.

16. A despeito de todos os esforços que vimos empenhando e apesar do vigor mostrado pelas manifestações nas ruas em todo o País, ainda não aconteceu uma efetiva reforma política. Sem uma mudança no modo como são conduzidas as eleições, corremos o risco de ver limitado o poder transformador de nosso voto. Na forma como acontece atualmente, a campanha eleitoral é dominada pelo poder econômico. São campanhas caríssimas que cerceiam a disputa em condições de igualdade entre os candidatos e favorecem a corrupção. Não é raro que o candidato eleito já chegue ao poder refém de negociatas que o levam a agir apenas em consonância com os interesses de quem o financiou. Parte do mesmo problema são as onerosas propagandas eleitorais. Condições desiguais têm levado ao abuso do poder econômico que permite a superexposição daqueles que conseguem financiamentos milionários, em detrimento dos demais. Não há garantia plena de democracia se situações como essas não forem modificadas por uma ampla revisão das regras que ordenam as eleições no País. A assimetria nas campanhas impede a disputa justa, transparente e leal. Regras claras devem nortear a aplicação do dinheiro para as eleições com vistas a impedir a influência do poder econômico e das oligarquias.

17. A luta pela reforma política é a maneira de os cristãos se colocarem contra um difuso sentimento de decepção e descrença na política institucional que paira na sociedade. Pesquisas têm indicado uma baixa confiança da população nos poderes instituídos da República. Duvida-se da honestidade de todos os políticos, nivelando-os por baixo. Desconfia-se dos programas partidários e, mesmo que haja tais programas, não se acredita que os políticos sejam fiéis a eles e demonstrem coerência. Com frequência, esse clima tem levado o cidadão à sensação de que votar não adianta nada e de que a participação política é inútil. Tal atitude, porém, gera um círculo vicioso: o cidadão não participa porque as estruturas do País não correspondem aos interesses do povo; no entanto, tais estruturas não vão mudar sem sua participação. É necessário evitar, a todo custo, o desalento e encontrar oportunidades de agir em favor de mudanças consideradas como necessárias.

18. Não há espaço para projetos políticos que vislumbrem retrocessos num País que ainda tem alto déficit em termos de garantia igualitária dos direitos sociais. As demandas por melhorias na educação e saúde públicas e na mobilidade urbana, por exemplo, sinalizam a necessidade de avanços dessas políticas, com mais investimentos públicos e adensamento de sua cobertura com qualidade. As mudanças almejadas pelo povo devem ser compreendidas como demandas para que o Estado aprofunde as conquistas e progressos já alcançados.

19. Por tudo isto, urge uma séria reforma política, como uma das principais reformas a serem realizadas em nosso País, pois, sem políticos qualificados sob todos os aspectos e comprometidos com as transformações que espera o povo brasileiro, será impossível avançarmos na democracia, que deve garantir também o igual acesso às condições dignas de vida para todos os brasileiros. Fazer reforma política é fazer as indispensáveis mudanças nas regras eleitorais hoje estabelecidas, bem como melhorar a representação do povo nos postos políticos, além de regulamentar os instrumentos da democracia participativa, através da qual, o próprio povo brasileiro decidirá, nos temas mais profundos e de maior impacto no País, qual é o caminho a seguir.

20. A partir de agosto de 2013 passou a se reunir, por convite da CNBB, um conjunto de Entidades organizadas da sociedade civil, de alta representatividade, para, a partir das exigências de mudanças na política, definir uma proposta unificada de reforma política para o Brasil, que angariasse o apoio das principais forças de mobilização da sociedade em torno de um projeto de lei de iniciativa popular. A este movimento deu-se o nome de
“Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas”. Hoje são quase cem entidades apoiadoras, dentre elas, a própria CNBB, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral), a Plataforma dos movimentos sociais pela reforma do sistema político, o CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), a CBJP (Comissão Brasileira de Justiça e Paz), a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), a ABRAMPPE (Associação dos Magistrados Procuradores e Promotores Eleitorais), o CNLB (Conselho
Nacional do Laicato Brasileiro), o CONFEA (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), a FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas), a CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), o INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos), a Frente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular. Além disto, foi criada, recentemente, a Coalizão Parlamentar pela Reforma Política e Eleições Limpas, que soma cerca de uma centena de parlamentares apoiadores.

21. Este Projeto de Lei de Iniciativa Popular tem como objetivo melhorar a política no Brasil, assim como ocorreu com as Leis Contra a Corrupção Eleitoral (Lei 9840/1999) e da Ficha Limpa (Lei 135/2010), que só se transformaram em lei, com a união de Entidades e pessoas de bem. Estes são os principais pontos de consenso entre as Entidades: a) a) afastar o poder econômico das eleições, através da proibição de financiamento de candidatos por empresas (pessoas jurídicas) e implantar o financiamento democrático, público e de pessoas físicas, ambos limitados;
b) b) adotar o sistema eleitoral chamado “voto transparente”, proporcional em dois turnos, pelo qual o eleitor inicialmente vota num programa partidário e posteriormente escolhe um dos nomes da lista ordenada no partido, com a participação de seus filiados, com acompanhamento da Justiça Eleitoral e do Ministério Público;
c) c) promover a alternância de homens e mulheres nas listas de candidatos dos partidos, porque o Brasil, onde as mulheres representam 51% dos eleitores, é um País de sub-representação feminina, com apenas 9% de mulheres na política;
d) d) fortalecer a democracia participativa, através dos preceitos constitucionais do Plebiscito, Referendo e Projeto de Lei de Iniciativa Popular, de modo a permitir sua efetividade, reduzindo-se as exigências para a sua realização e ampliando suas possibilidades de concretização.

22. Estes pontos não exigem Projetos de Emenda Constitucionais (PECs), por isto, com menos dificuldades, eles podem ser tramitados. E se forem aprovados, teremos dado mais um passo significativo na consolidação da democracia e na qualificação da dimensão política do Brasil. Nas eleições de 2014 precisamos eleger pessoas que se disponham a aprovar as grandes reformas necessárias ao Brasil melhor.

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SUSTENTABILIDADE SOCIAL

23. A reflexão sobre a sustentabilidade, em suas múltiplas dimensões, tem papel central no debate sobre como alcançar o desenvolvimento. Três princípios devem, em igual medida, orientar o pensamento e a ação:
e) o respeito ao ser humano, ou seja, a vida humana deve ser o centro de todas as atividades sociais e econômicas;
f) a equidade, ou seja, a partilha justa e imparcial de bens, recursos e oportunidades;
g) o bem-estar das sociedades contemporâneas e futuras. Contrariando tais princípios, no mundo atual, a expansão do capitalismo – em especial em seu formato neoliberal, que prima pela busca desenfreada pelo lucro imediato e a qualquer preço – impede qualquer possibilidade de se alcançar sustentabilidade e desenvolvimento social. O combate a tal situação requer não somente a consciência individual – mudança de estilos de vida – como a luta coletiva pela reorientação dos objetivos da produção de bens materiais e o estabelecimento de consistentes políticas econômicas que tragam em seu bojo o necessário e justo desenvolvimento social.

24. Todo discurso e prática que privilegiem os aspectos econômicos em detrimento dos aspectos relacionados à qualidade de vida e dignidade das pessoas deve ser objeto de atenta análise por parte dos eleitores. Como alerta o Papa Francisco, “devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Essa economia mata. [...] Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência dessa situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é
considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do descartável, que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenômeno de exploração e opressão, mas de uma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são explorados, mas resíduos, sobras”

25. Na resistência a esse modelo excludente, o direito a livre manifestação se constitui como dever cívico. No entanto, não pode se transformar na imposição, pela violência, do desejo discricionário de grupos que, muitas vezes, utilizam de manifestações populares com objetivos escusos. Numa sociedade marcada pela violência, naturalizada por formas explícitas de preconceito, ódio e exclusão, é preciso que o Estado atente para que a política de segurança pública seja a garantia dos direitos humanos e nunca limite o ser exercício. “O movimento rumo à identificação e à proclamação dos direitos do homem é um dos mais relevantes esforços para responder de modo eficaz às exigências imprescindíveis da dignidade humana”. Assim, há que se reconhecer que, fundamentalmente, “a paz é fruto da justiça” (Is 32, 17).

26. Nesse momento político, marcado pelas eleições presidenciais, de governadores de Estado e dos poderes legislativos federal e estaduais “incentive-se cada vez mais a participação social e política dos cristãos leigos e leigas nos diversos níveis e instituições, promovendo-se formação permanente e ações concretas”. Indica-se, portanto, a prática saudável de acompanhar o processo eleitoral por meio do conhecimento da história dos candidatos e, particularmente, do conhecimento da história do financiamento das campanhas de cada um deles. Sugere-se a atenção, principalmente, para os processos corrosivos que sobrevivem nas práticas eleitorais tais como a compra e venda de votos, o financiamento de campanha por empresas que, posteriormente, vão se beneficiar dos governos.

27. O combate à corrupção e a defesa dos valores éticos deve se sustentar no princípio da liberdade de expressão e de pensamento. Para isso torna-se necessário que a mídia, compreendida como instrumento de poder, seja democratizada. Quase sempre dirigindo-se às instituições políticas de forma negativa, como se política fosse coisa suja, onde prevalecem pessoas sem ética, a mídia reforça a descrença da população. Ao fazê-lo, deixa de favorecer uma educação popular capaz de questionar os fundamentos da ação política sem ética, o que beneficia os interessados em deixar a situação tal como está.
28. A democratização da mídia exige que se discuta o modo como se comunica e se distribui a informação. As inovações tecnológicas permitem o surgimento de novos sujeitos no campo da economia, da cultura, dos movimentos sociais e políticos. É preciso que seja garantido o acesso desses sujeitos aos meios de comunicação. Daí a necessidade de que se revejam as regras atuais de concessão do direito desses bens, cuja finalidade maior é o bem público, e não o benefício privado de seus detentores. A mídia deve estar – ainda mais intensamente no período eleitoral – a serviço da verdade e do bem comum. Os meios de comunicação devem ser, de fato, instrumentos que estimulem o debate e formem a consciência crítica cidadã. Dessa forma, a mídia pode desempenhar um valioso papel no aprimoramento da democracia.

29. Com o “Pensando o Brasil”, a CNBB convoca os cidadãos a se prepararem conscientemente para o momento da eleição. O eleitor consciente deve conhecer o passado de seu candidato e averiguar se o discurso e a prática por ele apresentados se conformam aos valores da ética e do bem comum. É preciso também exercer a missão profética de todo cristão e manter uma atitude de fiscalização e vigilância. Diante de irregularidades, é necessário denunciar. O silêncio e a omissão também são responsáveis pela deterioração da democracia. Por fim, é indispensável o acompanhamento dos
candidatos eleitos e o engajamento em prol de uma efetiva reforma política. A fé não pode ser vivida isoladamente, mas em comunidade e no exercício da caridade. Essa virtude cristã se manifesta, sobretudo, no zelo pelo próximo, de modo que não sobre na mesa de poucos, aquilo que falta na mesa de muitos. Daí a necessidade de que todos os cristãos se empenhem para que se efetivem, no País, os valores da igualdade, da dignidade humana e
da justiça social.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

"Maria, Mãe das mães rogai por nossas mães"

Com grande grito Isabel exclamou: “Você é bendita entre as mulheres, e é bendito o fruto do seu ventre! Como posso merecer que a mãe do meu Senhor venha me visitar”? (Lc1,42-43).
“Senhor Deus, no mês dedicado a Maria, agradecemos tão belo testemunho de vida deixado por ela. Fazei que a Boa Mãe seja nosso modelo no seguimento de vosso Filho, Jesus Cristo. Com ela queremos caminhar, renovando a cada dia o nosso sim a Vós. Amém”!
Tenham todos/as um excelente mês!


Mês de Maio: mês de Maria, mês das mães


Há muito tempo que o mês de maio tem uma forte conotação mariana na vida espiritual do nosso povo católico. No dia 13 de maio, celebra-se a festa de Nossa Senhora de Fátima e o mês se encerra com a festa da Visitação de Nossa Senhora a sua prima Isabel. Talvez um dos motivos do especial culto a Nossa Senhora em maio é que este é o mês das mães, e Maria é a Mãe de Deus e nossa. É por isso que é muito comum que o nosso povo sempre queira festejar e coroar sua Mãe celeste neste mês.

Não é a toa que o saudoso Papa João Paulo II, na sua Carta às Mulheres, publicada no dia 29 de junho de 1995, afirmou que Maria é a maior de todas as mulheres por ser a Mãe do Verbo Encarnado, tornando-se exemplo de docilidade e fidelidade ao amor de Deus.

Maria é o modelo para todas as mães e, por isso, convém também que neste mês de maio reflitamos um pouco sobre a importância da mãe nos nossos dias. Quando se referiu à maternidade na Carta às Mulheres, o Papa João Paulo II afirmou que elas se fazem ventre do ser humano na alegria e no sofrimento de uma experiência única, que as tornam o sorriso de Deus pela criatura que é dada à luz, que as faz guia dos seus primeiros passos, amparo do seu crescimento, ponto de referência por todo o caminho da vida. Essas palavras abrem caminho para amplas e profundas reflexões que nos possibilitam a descoberta de valores e princípios morais que expressam o plano do Criador e a maravilha da vida humana.

De fato, quando a maternidade revela o sorriso de Deus pela criatura que é dada à luz, a mãe nos revela toda a ternura divina e o seu amor que são manifestos na singeleza e na profundidade de um sorriso. Quando a mãe se faz guia dos primeiros passos do seu filho, nos mostra o Deus que se faz guia de toda a nossa história na caminhada rumo ao Reino definitivo. Quando a mãe ampara o crescimento do seu filho, nos mostra o Deus que nos ampara com a sua graça, a fim de que possamos superar a fragilidade da nossa natureza e possibilitar que possamos atingir a maturidade da vida espiritual. Quando a mãe se faz ponto de referência por todo o caminho da vida do seu filho, nos mostra que Deus é a grande referência para a nossa caminhada aqui na terra.

Maria é a Mãe de Deus e nossa. Que todos nós, devotos de Nossa Senhora Aparecida, aprendamos a ver nela o sorriso de Deus que nos revela seu amor e sua ternura, façamos dela a nossa guia no caminhar rumo ao Pai, contemos com o seu amparo nos momentos de dificuldades e fragilidades que marcam a existência humana, e que ela, nossa Mãe, seja referência para todos nós para que, a seu exemplo, sejamos fiéis ao sim que também demos ao nosso Deus quando assumimos a nossa fé. 
Dom Raymundo Card. Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida, SP
Fonte: http://www.a12.com/santuario-nacional/noticias/detalhes/mensagem-do-cardeal-dom-raymundo-damasceno-assis

"São João Paulo II e São João XXIII rogai a Deus por nós"



Homilia na canonização de JPII e João XXIII - 27/04/14
Homilia na canonização de JPII e João XXIII - 27/04/14
Missa de canonização dos beatos João Paulo II e João XXIII
Praça São Pedro – Vaticano
Domingo, 27 de abril de 2014

Boletim da Santa Sé

No centro deste domingo, que encerra a Oitava de Páscoa e que João Paulo II quis dedicar à Misericórdia Divina, encontramos as chagas gloriosas de Jesus ressuscitado.

Já as mostrara quando apareceu pela primeira vez aos Apóstolos, ao anoitecer do dia depois do sábado, o dia da Ressurreição. Mas, naquela noite, Tomé não estava; e quando os outros lhe disseram que tinham visto o Senhor, respondeu que, se não visse e tocasse aquelas feridas, não acreditaria. Oito dias depois, Jesus apareceu de novo no meio dos discípulos, no Cenáculo, encontrando-se presente também Tomé; dirigindo-Se a ele, convidou-o a tocar as suas chagas. E então aquele homem sincero, aquele homem habituado a verificar tudo pessoalmente, ajoelhou-se diante de Jesus e disse: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28).

Se as chagas de Jesus podem ser de escândalo para a fé, são também a verificação da fé. Por isso, no corpo de Cristo ressuscitado, as chagas não desaparecem, continuam, porque aquelas chagas são o sinal permanente do amor de Deus por nós, sendo indispensáveis para crer em Deus: não para crer que Deus existe, mas sim que Deus é amor, misericórdia, fidelidade. Citando Isaías, São Pedro escreve aos cristãos: «pelas suas chagas, fostes curados» (1 Ped 2, 24; cf. Is 53, 5).

João XXIII e João Paulo II tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocar as suas mãos chagadas e o seu lado trespassado. Não tiveram vergonha da carne de Cristo, não se escandalizaram d’Ele, da sua cruz; não tiveram vergonha da carne do irmão (cf. Is 58, 7), porque em cada pessoa atribulada viam Jesus. Foram dois homens corajosos, cheios da parresia do Espírito Santo, e deram testemunho da bondade de Deus, da sua misericórdia, à Igreja e ao mundo.

Foram sacerdotes, bispos e papas do século XX. Conheceram as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Mais forte, neles, era Deus; mais forte era a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem e Senhor da história; mais forte, neles, era a misericórdia de Deus que se manifesta nestas cinco chagas; mais forte era a proximidade materna de Maria.

Nestes dois homens contemplativos das chagas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia, habitava «uma esperança viva», juntamente com «uma alegria indescritível e irradiante» (1 Ped 1, 3.8). A esperança e a alegria que Cristo ressuscitado dá aos seus discípulos, e de que nada e ninguém os pode privar. A esperança e a alegria pascais, passadas pelo crisol do despojamento, do aniquilamento, da proximidade aos pecadores levada até ao extremo, até à náusea pela amargura daquele cálice. Estas são a esperança e a alegria que os dois santos Papas receberam como dom do Senhor ressuscitado, tendo-as, por sua vez, doado em abundância ao Povo de Deus, recebendo sua eterna gratidão.
Esta esperança e esta alegria respiravam-se na primeira comunidade dos crentes, em Jerusalém, de que nos falam os Atos dos Apóstolos (cf. 2, 42-47). É uma comunidade onde se vive o essencial do Evangelho, isto é, o amor, a misericórdia, com simplicidade e fraternidade.

E esta é a imagem de Igreja que o Concílio Vaticano II teve diante de si. João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restabelecer e atualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária, a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos séculos. Não esqueçamos que são precisamente os santos que levam avante e fazem crescer a Igreja. Na convocação do Concílio, João XXIII demonstrou uma delicada docilidade ao Espírito Santo, deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado. Este foi o seu grande serviço à Igreja; foi o Papa da docilidade ao Espírito.

Neste serviço ao Povo de Deus, João Paulo II foi o Papa da família. Ele mesmo disse uma vez que assim gostaria de ser lembrado: como o Papa da família. Apraz-me sublinhá-lo no momento em que estamos a viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele seguramente acompanha e sustenta do Céu.

Que estes dois novos santos Pastores do Povo de Deus intercedam pela Igreja para que, durante estes dois anos de caminho sinodal, seja dócil ao Espírito Santo no serviço pastoral à família. Que ambos nos ensinem a não nos escandalizarmos das chagas de Cristo, a penetrarmos no mistério da misericórdia divina que sempre espera, sempre perdoa, porque sempre ama.
Fonte: http://papa.cancaonova.com/homilia-na-canonizacao-de-jpii-e-joao-xxiii-270414/

Tempo da Páscoa – Vida que renasce

pascoa

No Tempo da Quaresma deste ano de 2014, a Campanha da Fraternidade, nos ajudou em nossa conversão. Neste ano de 2014, o tema foi: “Fraternidade e Tráfico Humano”, com o lema: “É para a liberdade que Cristo nos libertou (Gl 5, 1)”. Nesta páscoa de Jesus somos convidados a refletir sobre as armadilhas do diabo, porque Deus não se manifesta naquilo que mata a vida humana: a idolatria do dinheiro, que desconsidera a vida por causa do lucro, que leva tantas pessoas a sofrerem com o tráfico humano.

 "O Senhor ressuscitou, aleluia”! Feliz e Santa Páscoa a todos! Celebramos a vitória da vida sobre a morte e o pecado. É dada vida nova àqueles que confiam no poder salvador e libertador de Deus. Pela ressurreição de Cristo, a cruz torna-se sinal de vitória, amor de Deus e salvação da humanidade.

 Estamos nos dias em que celebramos, mais uma vez, na Páscoa de Jesus, presente em nossa PÁSCOA. Vivemos neste tempo dias intensos de muita escuta da Palavra de Deus. Mas, sobretudo, de muita contemplação do grande Mistério do amor de Deus Pai, manifestado na força do Espírito através do Filho muito amado Jesus Cristo, este que vem para nos libertar da morte e nos resgatar para Deus Pai, dando-nos uma vida nova. Isso porque o Senhor Ressuscitado nos assegura e nos dá VIDA EM ABUNDÂNCIA.                                                   

Páscoa – seu significado    
A Páscoa (do hebraico Pessach [פסח] significando passagem, também conhecida como Páscoa judaica, recorda a libertação do povo de Israel do Egito, conforme narrado no livro do Êxodo), é um evento religioso cristão, normalmente considerado pela Igreja Católica e demais igrejas cristãs como a maior e a mais importante festa da cristandade. Na Páscoa os cristãos celebram a Ressurreição de Jesus Cristo (Vitória sobre a morte) depois da sua morte por crucificação, ocorrido na altura do ano em 30 ou 33 d.C.
 Celebramos o Tempo da Páscoa para lembrar o amor de Deus e para fortalecer a nossa fé na ressurreição. Páscoa é esperança, é transformação, é crer na vida que vence a morte, na vida que é eterna. Páscoa é alegria.  Em Jesus Cristo, Deus amou o mundo e nos salvou, vencendo a morte. Jesus ressuscitou para ficar ao nosso lado, para nos proteger e guiar. Ele diz: “Eu sou o Bom Pastor e conheço as minhas ovelhas.” Não estamos abandonados no mundo. Deus está conosco. Jesus diz: “Eu vivo, vocês também viverão.”
 Páscoa – compromisso de fé
Na Páscoa refazemos o nosso compromisso de fé com o Deus vivo, ressuscitado, que vive conosco: o  Deus Emanuel. Ele  fala em nossos ouvidos. Fortalece a nossa família e Comunidade, que é também casa do Espírito Santo, confirmando a nossa participação em seu Reino de amor.
  Páscoa é a festa da salvação. Na ressurreição de Jesus Deus cria uma nova vida para a humanidade e para o mundo. Após a ressurreição de Jesus a salvação passa a ser de todas as pessoas que creem, e não mais só de um povo escolhido. A nova aliança de Deus rompe com a violência e a guerra, as leis e as obras, como meios para a salvação, e revela o amor e o perdão, a doação e a fé, a justiça e a paz, a verdade e a vida, a cruz e a ressurreição como caminhos para a comunhão santificadora com Deus.
 Após a cruz e a ressurreição de Jesus, Deus está vivo em tudo e em todos,  e não somente no quarto escuro do Templo. A denúncia da morte na cruz e a ressurreição de Jesus despertaram a vida e a transformaram em um tesouro eterno, presente de Deus, gratuitamente dado a todos e todas.
A festa da Páscoa revela o rosto do Deus que veio ao mundo mostrar um novo rumo, o caminho da salvação, que passa pela dinâmica de vida, experimentada em comunidade com fé e amor, com paciência e perseverança, com graça e paz. Do hebreu “Peseach”, Páscoa significa a passagem da escravidão para a liberdade. É a maior festa do cristianismo e, naturalmente, de todos os cristãos, pois nela se comemora a Passagem de Cristo - "deste mundo para o Pai", da "morte para a vida", das "trevas para a luz".

Hoje se faz necessãria uma espiritualidade de comunhão para a globalização do amor. É mesmo constitutiva de uma aurora de paz. Não temos um idioma comum, como foi o grego e o latim em tempos passados. Mas temos uma linguagem comum, que todos entendem: o amor.
 A oração vai além das fronteiras
A oração leva as pessoas e as comunidades a superar as fronteiras estreitas dentro delas mesmas para um olhar de esperança, de superação do pessimismo, do medo, da resignação, da fatalidade, da autossuficiência estúpida, da cultura de guerra e da violência. Quando o cristão coloca o coração em Deus, ele é capaz de ler os sinais dos tempos e discernir a vontade de Deus.
 Num mundo cruel de consumismo individualista, os cristãos recorrem à força dos fracos: a oração e o diálogo. Para uma cultura de paz, os cristãos sempre de novo recorrem ao perdão, “para purificar a memória”, como dizia João Paulo II. Devemos cultivar o gosto pela paz. Dom Faraj Rahho, Bispo de Mossul, seqüestrado e morto por fanáticos seguiu o exemplo do Mestre: deu sua vida por amor a todos e pela paz. 
Hoje, se torna cada vez mais atual recordar a memória de pastores cristãos como Dom Farah Rahho (Mossul, Iraque), Dom Oscar Romero (El Salvador) para relembrar às nossas Igrejas o compromisso profético de servir ao povo, comprometendo-se com as grandes causas da humanidade. A memória destes bispos martirizados nos lembram a urgência de continuar a sua luta pela justiça do Reino de Deus como caminho pascal de intimidade com Deus e testemunho de amor a Jesus Cristo ressuscitado. 
É o Senhor quem nos convida a celebrar sua Páscoa!
Assim ouvimos com alegria: “Cristo ressuscitou, verdadeiramente, dos mortos”! Num duelo admirável a morte lutou contra a vida, e o Autor da vida se levanta triunfador da morte. Terminou o combate da luz com as trevas, combate histórico de Jesus com os fariseus e todos aquelas pessoas que não acolheram o Reino de Deus. Após as trevas brilhará o sol da Ressurreição! Nada, pois, mais necessário do que viver em intensidade estes dias sagrados e abrir os corações às inspirações divinas. 
Então a Páscoa será abençoada e sinal de novas conquistas e de vida plena para todos.  Participem destes importantes dias onde celebramos a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, bem como uma vida de ressuscitados em todo o Tempo Pascal. Feliz Páscoa e bom tempo Pascal a todos vocês, suas famílias e comunidades! Deus abençoe e guarde a todos/as.

Dom Vilson Dias de Oliveira, DC
Bispo Dioocesano de Limeira, SP
Bispo Referencial da Animação Bíblico Catequética do Reg. Sul 1
Fonte: http://www.catequeseebiblia.com.br/artigos/catequese-e-familia/516-tempo-da-pascoa--vida-que-renasce.html