O Batismo para o Povo
Quando chegamos muito cedo à Igreja, esta amanhecendo e a porta esta fechada. Não podemos entrar. Somente mais tarde, quando chegar o porteiro com a chave, a porta pode ser aberta. Aí sim, podemos entrar. No amanhecer de nossa vida, estamos fora da Igreja de Cristo. O batismo é a chave que abre a porta para que possamos entrar e fazer parte como pessoas, com deveres e direitos.
O batismo, ao mesmo tempo que nos introduz na Igreja, nos incorpora ao Corpo místico de Cristo, nos toma seus membros, fazendo de nós templos do Espírito Santo...
Neste trabalho, não pretendemos trazer tudo o que se ensina a respeito do batismo. Traremos apenas o essencial, o suficiente. O batismo é um gesto amoroso de Jesus Cristo. O seu efeito é invisível aos olhos. Mas a fé nos diz que ele devolve a vida divina que os primeiros pais haviam perdido. Também dá o perdão de todos os pecados atuais, se por acaso alguém os tiver, na hora do batismo. Desta maneira, nos toma filhos queridos de Deus, aptos para receber a herança que nos preparou e ao mesmo tempo nos toma irmãos uns dos outros.
No batismo, Jesus nos convoca para uma missão: continuar a obra dele, com os dons e os meios que deixou à nossa disposição. E necessário que cada um conheça sua dignidade e sua missão para poder empregar bem o seu tempo, dando sentido à vida.
Jesus fala do batismo
Quando Nicodemos, membro do Sinédrio, se encontrou com Jesus ã noite, disse: "Rabi, sabemos que vieste como mestre da parte de Deus, pois ninguém, se Deus não estiver com ele, pode fazer os prodígios que tu fazes" (Jo 3,2). Jesus respondeu: "Em verdade te digo: Ninguém, se não nascer de novo, pode ver o reino de Deus" (Jo 3,3). Diante da perplexidade de Nicodemos, Jesus continuou: "Em verdade, te digo: Ninguém, se não nascer pela água e pelo Espirito Santo, pode entrar no reino de Deus. Aquilo que é gerado pela carne é carne, e aquilo que é gerado pelo Espírito é espirito. Não te ad-mires de eu te haver dito: E necessário que vós sejais gerados de novo" (Jo 3,5-7). Assim, Jesus ensinava que as condições necessárias para o reino de Deus é a vida nova que se recebe por intermédio do batismo.
As purificações
Jesus anuncia a Nicodemos a necessidade do batismo para ter uma nova vida.
A palavra batismo é de origem grega e significa: imergir, afundar, afogar. Mas tem o sentido também de: purificar, destruir, lavar.
O ser humano tem uma tendência natural de purificar seu corpo com banhos e de purificar sua consciência dos pecados que julga ter cometido. Para conseguir isso, muitas vezes usa a água como rito de purificação. Muitos povos antigos como os egípcios (no Nilo), babilônicos (no Eufrates), hindus (no Ganges), essênios (em Qumrã), e muitos outros povos, ainda hoje, usam banhos e abluções como ritos de purificação interior.
No Antigo Testamento havia a convicção de que a impureza se transmitia pelo contato. Por isso, se usava a água para a purificação. Mas as abluções tinham um significado mais profundo: buscar a santidade das pessoas. Deus queria que os membros de seu povo fossem santos: "Vocês foram santificados e se tornaram santos, porque eu sou santo. Portanto, não se tornem impuros" (Lc 11,44). Deus não queria que esses banhos fossem apenas formalidades externas. Mas que fossem acompanhados de uma vida de justiça. E, quando isso não acontecia, por meio dos profetas, como Isaias, admoestava: "As vossas mãos estão cheias de sangue: lavai-vos, purificai-vos! Tirai de minha vista vossas más ações! Cessai de praticar o mal, aprendei a fazer o bem! Fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva" (Is 1,15-17).
Batismo dos prosélitos
O nome prosélito vem do grego e significa "aquele que se aproxima, que se agrega" a uma comunidade.
Todos os descendentes de Abraão eram membros do povo de Deus. Mas, se algum estrangeiro quisesse fazer parte deste povo, era aceito. Para tanto, devia ser circuncidado, uma vez que a circuncisão era o sinal da participação na Aliança (Gn 17,11) e da integração ao povo de Deus. Também recebia o batismo para se purificar. O batismo era um banho, feito diante de pelo menos duas testemunhas judaicas (rabinos). Depois disso, era considerado membro do povo de Deus.
Também entre os essênios se usavam os banhos para a purificação. Em Oumrã, perto do mar Morto, as escavações trouxeram ã luz uma grande construção, com piscinas para banhos. Nos textos, descobertos (1947-48) nas grutas, neste local, se percebe que a purificação se reveste de grande importância. Para os essênios, a purificação devia ser uma conseqüência da conversão do coração. O manual de disciplina deles diz: "O ímpio não será purificado pelas águas de expiação, nem será jamais purificado com águas lustrais; não se santificará entrando nos banhos e nos rios, e não se purificará, absolutamente, em água. É impuro e assim permanecerá, enquanto continuar a menosprezar os mandamentos de Deus, sem corrigir-se na comunidade de sua eleição".
Para o povo de Deus, mediante os ritos de purificação, é Deus mesmo quem purifica.
Batismo de João Batista
Antes de João Batista havia o autobatismo. Era um banho que se repetia de acordo com a necessidade. Com a chegada do Batista há uma mudança radical. Agora, ele batiza os outros e seu batismo não é renovado, já que sua mensagem tem caráter messiânico. Ele insiste na mudança de vida, pois "João percorria toda a região do rio Jordão, pregando um batismo de conversão para o per-dão dos pecados" (Lc 3,3). 0 batismo de João é provisório, mas anuncia o definitivo.
Todo o povo dos arredores do Jordão e de Jerusalém vai a João para ser batizado. Também Jesus que acaba de chegar de Nazaré da Galiléia. João aponta para ele, dizendo: "Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o peca-do do mundo" (Jo 1,29). Jesus, no entanto, entra na fila para ser batizado. João recusa. Mas depois concorda.
Ao ser batizado, Jesus quis pôr em evidência a solidariedade para com os homens. Também assumir a missão para a qual o Pai o havia enviado. As palavras do Pai: "Tu és o meu Filho amado, em ti encontro o meu agrado" (Mc 1,11), constitui a consagração pública de sua missão. O reconhecimento de seu Filho Eterno no homem Jesus, o verdadeiro Messias. Jesus recebe também o Espírito Santo em plenitude.
Jesus não necessitava receber o batismo de conversão que João Batista administrava, no entanto, entrando no rio Jordão, deu a força santificadora para toda a água que se utilizaria no sacramento do batismo.
O batismo de João era diferente daquele que Jesus instituiria. Aos enviados das autoridades de Jerusalém responde: "Eu batizo vocês com água. Mas chegará alguém mais forte do que eu. Eu não sou digno nem sequer de desamarrar a correia das sandálias dele. Ele é quem batizará vocês com o Espírito Santo e com fogo" (Lc 3,16).
Batismo de Jesus
Antes de subir ao céu, Jesus dissera a seus discípulos: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado será salvo; quem não crer, será condenado" (Mc 16,15-16).
No dia de Pentecostes, São Pedro diz: "Esse Jesus, Deus o ressuscitou, e disso nós todos somos testemunhas" (At 2,32). "A ele justamente Deus constituiu Senhor e Messias, esse Jesus que vós crucificastes" (At 2,36). "Quando ouviram isso, todos ficaram de coração aflito e perguntaram a Pedro e aos outros discípulos: Irmãos, o que devemos fazer? Pedro respondeu: Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos pecados; depois receberão do Pai o dom do Espirito Santo" (At 2,37-38).
Ser batizado significava incorporar-se à comunidade dos discípulos de Cristo. Para isso, se necessitava que houvesse:
1°- A pregação da boa nova.
2°- A fé dos ouvintes, suscitada pela pregação.
3°- A recepção do batismo.
Dizia-se batizar em "nome de Jesus" para diferenciar de outros batismos existentes, com os quais não devia ser confundido.
Pertencemos a Cristo
O batismo devolve a vida divina que os primeiros pais haviam perdido, nos toma "homens novos" (Ef 4,24). Também perdoa qualquer outro pecado que alguém haja cometido.
O Pai, com o batismo, por obra do Espirito Santo, nos une a Cristo para podermos ter condições de ingressar na comunidade Divina. São Paulo diz: "Estejam certos de que receberão do Senhor a herança como recompensa. O Senhor a quem vocês servem é Cristo" (Cl 3,24).
Pelo batismo o Pai nos entrega a Jesus: e Jesus torna-se nosso Senhor. Por isso, na última ceia, ele reza: "Pai, aqueles que tu me deste, eu quero que estejam comigo onde eu estiver, para que contemplem a minha glória que me deste, pois me amaste antes da criação do mundo" (Jo 17,24).
Como taças, de diversos tamanhos, em que cada uma aparece plenamente "satisfeita", quando cheia, cada um de nós gozará a plena felicidade de Deus. A taça da felicidade terá o tamanho do amor que cada um vivenciou nesta vida.
Caráter (marca batismal)
O batismo deixa em nós uma marca indelével (o selo). Uma marca que não se apaga mais. Por isso, ele é recebido apenas uma vez.
Em 1963, numa paróquia de Caxias do Sul, certo domingo, vieram os pais para batizar o filho de quase dois anos de idade. No dia seguinte, uma senhora comunicou que aquela criança já fora batizada e ela havia sido a madrinha. Quando se perguntou o motivo do novo batismo, respondeu: os pais brigaram comigo e quiseram arranjar outra comadre. Para esta criança apenas o primeiro batismo foi válido. O segundo não teve efeito nenhum. O mesmo se pode dizer daqueles que, deixando a Igreja católica, vão se fazer batizar em alguma comunidade não católica.
Quando a gente nasce, nasceu para sempre. Com o batismo, recebemos a vida divina. Por isso, novos batismos não mais têm efeito sobre o batizado.
A marca que o batismo deixa em nós diz que somos propriedade do Pai, do Filho e do Espirito Santo e somos destinados a cumprir uma missão em prol dos semelhantes.
Quando percorria a campanha, numa paróquia da serra gaúcha, muitas vezes, encontrava numeroso gado que, saindo das invemadas, andava pela estrada. Pertencia a diversos proprietários. Perguntei a um jovem: "Como é possível descobrir o proprietário entre tanto gado?". "E. fácil", respondeu. "Cada animal traz na paleta as iniciais do nome do dono, feito com ferro em brasa. É uma marca que não se apaga mais. Por ela se sabe a quem pertence". Pelo batismo recebemos uma marca indelével pela qual somos identificados como filhos de Deus, propriedade da Trindade. É uma marca que imprime em nós certas características que nos torna semelhantes a Cristo. Quando Deus Pai olha para um batizado, vê nele a imagem de Jesus Cristo e o ama com o mesmo amor que ama a ele.
Juliano, o apóstata, foi imperador por pouco tempo. Era cristão, havia sido batizado. Depois apostatou. Queria tirar de si a marca do batismo. Para isso, tomava banho em sangue de animais. No entanto, apesar desta sua ação, jamais poderia arrancar de sua alma os efeitos do batismo. A imagem da Trindade, impressa nele, era indelével, mesmo sendo deformada com sua apostasia.
Tanto no céu como no inferno o batizado leva consigo a marca de filho de Deus. No céu, para sua glória. No inferno, para sua desonra e desgraça.
Templos do Espírito Santo
O batismo nos transforma em templos do Espirito Santo, em morada da Santissima Trindade. Por isso, Leonidas, que viveu nos primeiros séculos, depois do batismo do filhinho Origens, diariamente, antes de dormir, beijava-lhe o peito e adorava o Deus presente nele. De quem aprendeu para acreditar nesta verdade? De São Paulo, que diz: "Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Ora, se alguém maltrata o templo de Deus, Deus maltratá-lo-á, porque é o templo de Deus, e tal templo sois vós"" (1Cor 3,16-17).
Três tipos de batismo
De acordo com os santos Padres e a doutrina da Igreja, existem três tipos de batismo que podem levar a salvação:
1°- Batismo de desejo: Neste, Deus olha o desejo e o amor da pessoa. Jesus disse: "Quem me ama será amado por meu Pai, e eu amá-lo-ei e manifestar-me-ei a ele" (Jo 14,21).
Na Idade média, os teólogos acreditavam que os povos do Novo Mundo estavam na mesma situação dos povos que viviam antes da encarnação de Jesus Cristo. A fé em um Deus que governa o mundo devia ser interpretada como batismo de desejo. Aliás, Pio XII, numa carta ao cardeal Cushing, em 1949, dizia: "Em certas circunstâncias, que estão especificadas, basta, para salvar-se, um desejo implícito do batismo, com ele, um desejo implícito da Igreja, uma vez que este desejo é inspirado pela fé sobrenatural e, sobretudo, pelo amor a Deus".
O Vaticano II afirma: "Aqueles, portanto, que, sem culpa, ignoram o Evangelho de Cristo e sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero e tentam, sob o influxo da graça, cumprir, por obras, a sua vontade, conhecida através do ditame da consciência, podem conseguir a salvação eterna" (LG 16).
2°- Batismo de sangue: Trata-se daquele que derrama seu sangue por Jesus Cristo, antes de ser batizado. No tempo das perseguições romanas, pessoas que estavam se preparando para receber o batismo (catecúmenos) eram mortas por defender sua opção por Cristo. Ninguém negava que se salvariam. Baseavam esta verdade nas pa-lavras de Jesus: "Quem quiser salvar sua vida, vai perdê-la; mas, quem perde a sua vida por causa de mim e do Evangelho vai salvá-la" (Mc 8,35). Alias, a Igreja celebra anualmente a festa dos Santos inocentes. São as crianças que Herodes mandou matar. Não receberam o batismo de água porque ainda não havia sido instituído. No entanto, são veneradas como santas, pela Igreja, em sua liturgia.
3°- Batismo de agua: É o sacramento que nos toma filhos de Deus. São Jerônimo, falando deste batismo, diz: "Jesus, quando entra nas águas do rio Jordão ,emerge a humanidade inteira". Nesta hora, toda a água recebe a força de purificar as almas. O Pai atesta que o homem Jesus é o seu Filho amado, e o Espírito Santo unge Jesus para a missão para a qual o Pai o enviara. Mas o verdadeiro batismo de Jesus é a Páscoa: imersão na morte e ressurreição dos mortos. Pois Jesus havia perguntado aos discípulos: "Por acaso, vocês podem beber o cálice que eu vou beber? Podem ser batizados com o batismo com que eu vou ser batizado?" (Mc 10,38). Jesus falava da doação da vida que, a exemplo dele, os após-tolos deviam dar.
São Paulo diz: "Vocês não sabem que todos nós que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte? Pelo batismo fomos sepultados com ele na mor-te, para que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos por meio da glória do Pai, assim também nós possamos caminhar numa vida nova" (Am 6,3-4).
A Igreja tem seu início com o anúncio da morte e ressurreição de Jesus Cristo e como batismo (At 2,14ss). A primeira leva de cristãos foi toda de adultos. No dia de Pentecostes foram batizados três mil. Em seguida, mais dois mil. Depois, o número foi aumentando.
O batismo na história
Do século II ao VI
Nos primeiros séculos, devido aos perigos das heresias e apostasias provocadas pelas perseguições, se começou a fazer maiores exigências com os que desejas-sem tornar-se cristãos. Somente se admitia um candidato mediante a apresentação de um padrinho. Este, depois, o acompanhava durante os anos de preparação (três ou quatro anos), observando seu comportamento. Os candidatos, aos domingos, participavam da celebração da palavra. Depois, se retiravam, enquanto os cristãos continuavam a celebração eucarística.
No período de preparação à Páscoa, o catecúmeno participava mais intensamente da preparação. Ao aproximar-se da festa, o padrinho apresentava o catecúmeno ao bispo, que o recebia em nome do Senhor. Em seguida, o instruía sobre a Sagrada Escritura e as verdades do Creio.
Na noite que precedia a Páscoa, rezavam o Creio e o pai-nosso, recebiam a unção pré-batismal e depois eram batizados. Em Nazaré, ainda se encontram as ruínas de uma piscina deste tempo. Pode-se ver que o catecúmeno descia três degraus que o levava ao fundo. Ficava com água até o peito. Neste momento o celebrante o batizava, apoiando a mão na cabeça do catecúmeno e fazendo-o imergir por três vezes, dizendo: "Eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Em seguida, o recém-batizado subia pelo outro lado da piscina. Assim podia se entender melhor que o batismo era uma imersão na morte de Jesus (morte ao pecado) e uma ressurreição (subia um homem novo, sem pecado). Ou, podia ser uma passagem semelhante àquela dos hebreus, através do mar Vermelho, quando saíram do Egito. O batismo se apresentava como um novo êxodo, rumo à liberdade. Uma passagem da morte para a vida. Do pecado para a graça.
O batismo não é uma chegada. É uma partida que nos leva pelo caminho da verdadeira liberdade. São Pau-lo nos diz: "Irmãos, vocês foram chamados para ser livres" (GI 5,13), pois "Cristo nos libertou para que seja-mos verdadeiramente livres. Portanto, fiquem firmes e não se submetam de novo ao jugo da escravidão" (GI 5,1). Quanto ao batismo, "não se trata de limpeza da sujeira corporal, mas de compromisso solene de uma boa consciência diante de Deus, mediante a ressurreição de Jesus Cristo" (1Pd 3,21). Na verdade, nossa vida se desenvolve entre dois batismos: aquele da água e aquele da nossa morte. Entre os dois existe o tempo do deserto, através do qual, a exemplo do povo de Deus, caminhamos para a terra prometida. Neste tempo, Deus nos acompanha com sua palavra, nos alimenta com a eucaristia, nos guia pelo Espírito Santo e nos pede que caminhemos de mãos da-das com nossos semelhantes.
Do século VI ao XII
Nestes séculos, se reduz o tempo de preparação ao batismo (catecumenato). Toma-se normal o batismo de crianças. Por isso, o papel do padrinho muda. Agora, é aquele que representa e fala em nome daquele que será batizado.
Do século XII ao Vaticano II
A alta mortalidade infantil da Idade média faz com que se batize a criança quanto antes. E por comodidade, aos poucos, se abandona o batismo por imersão e se passa a batizar por infusão (se derrama água sobre a cabeça). No século XIV, praticamente, não existe mais batismo por imersão.
No início do século X, o batismo começa a ser administrado também fora da Páscoa.
E no século XII, em geral, existe somente batismo de crianças. Então, o catecumenato desaparece. Este costume chega até o Vaticano II. Depois do Concílio surgem cursos para pais e padrinhos, preparando o batismo.
Sacerdócio dos fiéis
Pelo batismo, o cristão toma-se membro do Corpo de Cristo, participante do seu sacerdócio. Pode, por isso, oferecer ao Pai a vitima Divina presente na Eucaristia. Também pode oferecer a Deus a criação e a atividade humana, transformando tudo num hino de louvor ao Criador.
São Pedro diz: "Vocês são raça eleita, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido por Deus, para pro-clamar as obras maravilhosas daqueles que chamou vocês das trevas para a sua luz maravilhosa. Vocês que antes não eram povo, agora são povo de Deus" (1 Pd 2, 9-10).
Batismo de crianças
O batismo de crianças existiu desde o início da Igreja. Pelo ano 200 se batizavam as crianças das famílias cristãs, sem contestação de praticamente ninguém.
Muitas vezes se ouve dizer que se deveria esperar para batizar quando o indivíduo pudesse escolher por si mesmo.
Mas, por que a Igreja não espera para batizar? Porque Deus também não espera para nos amar quando podemos entender o seu amor. Tornar-nos seus filhos é a maior prova de amor que Deus poderia ter para conosco. Nenhuma criança escolheu os pais, a Pátria, a família, mas ela existe. Então, é necessário dar-lhe aquilo que é melhor para ela, embora ainda não seja capaz de escolher. Ora, a vida divina, dada por meio do batismo, é a maior graça que alguém pode receber. Por isso, ela não pode ser privada. E quando crescer deverá ser ajudada a assumir o compromisso com Cristo.
Não se pode esperar que a criança cresça para que possa escolher o nome que deseja, a língua que quer fa-lar, a família com quem deseja viver. Sabe-se que estas coisas são um bem para ela, por isso, lhes são dadas antes que entenda. Também a vida divina é um bem. Por isso, lhe é dada na flor da idade, antes que entenda. Uma criança nasce numa família da qual recebe o nome, a raça, a língua, os hábitos. E, quando os pais vivem a experiência da fé, desejam que os filhos façam o mesmo. Depois, quando chegam ao uso da razão, poderão decidir e assumir livremente por si.
Quando há uma garantia de que a criança será educada na fé cristã, deve-se batizar. Se não houver esta garantia, é necessário adiar o batismo. Em perigo de morte deve ser batizada, mesmo contra a vontade dos pais.
As crianças não têm condição de fazer o ato de fé. Mas, conforme Santo Agostinho, elas são batizadas na fé da Igreja. A Igreja o faz por elas.
Nas observações preliminares do rito de batismo — Conferência Nacional dos Bispos do Brasil —, promulgado pela CNBB, consta que "a Igreja desde os primeiros séculos batizava não só adultos, mas também as crianças. A Igreja sempre entendeu que não se devia privar do batismo as crianças, uma vez que são batizadas na fé da mesma Igreja, que é proclamada pelos pais, padrinhos e todos os presentes. Neles está representada a Igreja local e toda a assembléia dos santos e dos fiéis: a mãe Igreja que gera todos e cada um".
E as crianças que morrem sem batismo, se salvam? Os teólogos dizem que Deus olha a fé e o desejo dos pais. Também da Igreja. Ele não condenaria crianças inocentes.
Escolha dos padrinhos
O padrinho não existe como se fosse um enfeite de presépio. Ele é escolhido para uma missão: ajudar os pais na educação cristã do filho. Por isso, todo o padrinho deve ser escolhido em função do batizando, e não por-que é amigo de pescaria do pai. Ou porque é rico e pode dar um gordo presente ao afilhado. A missão principal dos padrinhos é ajudar o afilhado a ser um coerente discípulo de Cristo. E o fará por meio da palavra e, principalmente, do testemunho.
O padrinho deve ser uma pessoa batizada, crisma-da, católica, para que possa exercer sua missão, se não vive a vida cristã, não participa da comunidade, é amasiado, infiel, blasfemador, injusto, como pode exercer sua missão? Se é de outra religião, merece todo o respeito, mas como poderá dar ao batizado aquilo que não tem? Um peixe jamais poderá ensinar um pássaro a voar. A Igreja aceita alguém de outra religião, não como padrinho, mas como testemunha, junto com um padrinho católico. Por quê? Porque deseja que os padrinhos sejam coerentes. Não o seriam se não tivessem condições de ajudar o batizando com palavras e exemplos a ser autêntico cristão.
Quanto ao número de padrinhos: pode ser um padrinho, ou uma madrinha. Ou um padrinho e uma madrinha. Não devem ser meia dúzia porque depois ninguém assume. Também para que se possa dar à criança uma orientação uniforme. Se são muitos, cada um tem seu modo de ser que, em vez de ajudar, atrapalha a formação cristã da criança.
Os pais terão escolhido bons padrinhos se puderem dizer: "Filho, siga o exemplo de seu padrinho, de sua madrinha, que será um bom cristão". Se não puderem dizer isso, não fizeram boa escolha.
Dia do batismo
As mães devem alimentar bem as crianças antes de sair de casa. Preocupem-se com o batismo, e não com o fotógrafo ou se a criança chora ou não enquanto é batizada. Convidem toda a familia a participar. Expliquem aos filhos que podem entender que não se batiza para afastar mau olhado, para fazer a criança dormir, para ela ficar boa, para ela ter sorte, ou para não ficar feio diante da comunidade. Mas se batiza para tomar a criança filha de Deus.
Cerimônias do batismo
a) Unção com óleo dos catecúmenos: Antigamente, quando os gladiadores lutavam na arena, ungiam-se com óleo para mais facilmente poderem livrar-se do adversário.
Ungir o batizando no peito simboliza a luta que o batizado deve enfrentar para livrar-se dos vícios, do pecado, que estão sempre prontos para escravizá-lo.
b) Renúncia ao mal: Já nos primeiros séculos, antes do batismo, o catecúmeno rezava o Creio que continha as verdades da fé. Também o pai-nosso, a oração dos filhos de Deus. Renunciava ao demônio, isto é, a tudo o que pudesse desviá-lo de seguir Jesus Cristo, como a desunião, o pecado. Atualmente, continuam a existir estas promessas que são feitas pelos pais e padrinhos de um modo personalizado, não coletivo. Por isso, respondem no singular: "renuncio", depois de cada pergunta do celebrante. Com isto, renovam as promessas de seu batismo para que tenham condições de orientar o novo batizado. E, ao renovar a fé, respondem: "Creio".
c) O batismo pode ser feito:
1° Mergulhando a criança parcialmente ou totalmente na água.
2° Derramando água sobre a cabeça e deixando-a escorrer sobre todo o corpo.
3° Derramando água somente sobre a cabeça. Convém que a água seja abundante.
Para a validade do batismo, a água não necessita ser benta. Qualquer água serve para batizar.
Basta que o celebrante tenha a intenção de batizar como faz a Igreja e enquanto derrama a água sobre o batizando, diga: NN (diz o nome), EU TE BATIZO EM NOME DO PAI, E DO FILHO, E DO ESPÍRITO SANTO.
d) Unção depois do batismo: O batizado pode ser ungido com óleo do crisma. Significa a nova missão que ele assume como filho de Deus. Enquanto não tiver o uso da razão, esta missão exercem-na os pais e padrinhos. Depois, nas pegadas deles, ele continuará a exercê-la durante toda a vida.
e) Veste nova: Em geral, a criança vai à Igreja com veste nova. Significa a vida nova que recebe no batismo. Torna-se uma nova criatura, à semelhança de Cristo.
f) Vela acesa Uma vela nova, quando acesa, se ninguém a apagar, fica iluminando até se consumir toda. E o exemplo do cristão que, a partir do batismo, deve iluminar com seu testemunho, até o fim da vida.
g) Sal: (optativo) no novo rito do batismo. Sugere que a mãe seja convidada a colocar um pouco de sal na boca da criança. Recorda que o batizado deve ser sal, ajudado, principalmente, pela família.
h) "Effeta"—(abre-te) (optativo): O celebrante toca os ouvidos e a boca da criança significando que deve es-tar de ouvidos abertos para ouvir a Palavra de Deus e estar sempre pronta a professar a fé, louvando a Deus.
No fim da cerimônia, se reza o pai-nosso juntos por-que os batizados tornaram-se filhos do mesmo Pai, Deus. Em seguida, o celebrante pede a bênção sobre os pais e todos os presentes. Depois, os batizados são consagra-dos a Nossa Senhora. Pede-se a ela que cuide deles como cuidou de Jesus, seu Filho.
Qualquer pessoa pode batizar, ainda que não seja católica ou batizada. Basta que tenha a intenção de batizar de acordo com a praxe da Igreja.
Em caso de necessidade (perigo de morte), qualquer pessoa tem a obrigação de batizar. Por isso, é necessário que todos aprendam a batizar corretamente. Fora disso, o batismo deve ser administrado na Igreja da comunidade onde residem os pais, pois é nesta que o batizado vai se incorporar. Para batizar fora da comunidade paroquial se necessita da autorização escrita do pároco.
E importante que pais e padrinhos se preparem para o batismo, participando do curso que se faz na comunidade. Não é perder tempo. O curso ajuda a recordar certas verdades que serão úteis para ajudar o novo batizado.
O nome do filho seja escolhido pelos pais (familiares). Seja nome que mais tarde não envergonhe a criança diante dos colegas.
Fácil de ser pronunciado para que não seja trocado por apelido.
O nome mais belo que alguém possa ouvir é o nome de batismo. Então, não vamos trocá-lo por outro.